quarta-feira, 3 de abril de 2013

O humor de Peter Sellers na crise da península coreana
03/04/13 08:59 | Octávio Costa - Editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)
As ameaças da Coreia do Norte aos Estados Unidos e à Coreia do Sul parecem piada. Nas devidas proporções, lembram uma comédia inglesa, de 1959, chamada "O rato que ruge", com Peter Sellers e Jean Seberg.
No filme, um pequeno ducado europeu vive grave situação financeira e seus dirigentes encontram um plano de salvação.
Declaram guerra aos EUA de olho na gorda ajuda econômica que devem receber depois de derrotados. Mas se esquecem de avisar ao chefe de suas tropas que o objetivo era perder a guerra.
Quem está no poder em Pyongyang é Kim Jong-un, sucessor de seu pai, o ditador Kim Jong-il, morto em 2011. O país comunista vai mal, enfrenta falta de energia e sofre com as sanções impostas pela ONU desde 2006, em condenação a testes nucleares.
Ao assumir, o jovem Kim deu a esperança de ser um sopro de renovação. Chegou a posar ao lado da mulher, no que foi visto como concessão à modernidade. Analistas se apressaram em afirmar que a Coreia do Norte iria marchar para a abertura política.
Mas cometeram o mesmo engano dos dirigentes do ducado inglês: esqueceram de combinar com os norte-coreanos.
Kim Jong-un é imaturo e está onde está porque se tornou uma marionete nas mãos dos militares. Suas investidas contra os EUA e a Coreia do Sul atendem aos interesses de seus tutores e também servem para desviar a atenção da população dos verdadeiros problemas do país.
A não ser pelo aparato bélico, Pyongyang é símbolo de atraso industrial. Está a anos luz da produção sofisticada dos sul-coreanos, que invadem o mundo com as logomarcas da Samsung, da LG, da Kia e da Hyundai.
Com investimento pesado em educação nos últimos 30 anos, Seul se orgulha de comandar a 13ª economia do mundo.
O que pode fazer a Coreia do Norte para se contrapor à prosperidade dos vizinhos? A resposta de Kim Jong-un e seus generais é muito simples: depois de anunciar o fim dos tratados de não agressão, decidiu declarar "estado de guerra" contra o Sul e também os EUA.
A bravata surpreende pelo total anacronismo e pela falta de sintonia com as decisões que emanam dos fóruns internacionais. Mas, ao mesmo tempo, traz preocupação para a região.
Se o pequeno títere for além da retórica e voltar seus mísseis para alvos além fronteira, a represália será inevitável. Os militares da Coreia do Sul já receberam de seu governo sinal verde para revidar ataques.
Em 25 de junho de 1950, mal saída da II Guerra Mundial, a humanidade viveu momentos de tensão com a Guerra da Coreia, que selou a divisão entre o norte comunista e o sul capitalista.
O armistício só foi firmado em 1953, após a morte de 1,2 milhão de pessoas. Mas por trás dos contendores estavam a China, a Rússia e os Estados Unidos, que hoje não têm interesse no conflito.
Felizmente, a história quando se repete não passa de farsa, como ensinou o velho barbudo. Bem que Kim Jong-un podia se dedicar a brinquedos menos perigosos.
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Octávio Costa é editor-chefe do Brasil Econômico