quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Depois do Irã, por que não Cuba?

Em 1823, o secretário de Estado John Quincy Adams viu Cuba como estando madura para a expansão territorial dos Estados Unidos, que precisavam sufocar conflitos faccionais e firmar-se como potência mundial.
Quase 200 anos depois, o secretário de Estado John Kerry e o presidente Obama resistem obstinadamente à "fruta mais à mão" representada não pela possibilidade de anexação, mas de uma vitória de política externa com Cuba.
O contraste com o Irã é instrutivo. Primeiro com Hilary Clinton e agora com John Kerry, a Casa Branca de Obama tem mostrado que um consenso internacional em torno de um misto de diplomacia e sanções coletivas pode criar condições para resultados potencialmente significativos com o Irã. Para isso, ela se dispôs a antagonizar Israel e a Arábia Saudita, a provocar uma reação política contrária no Congresso americano, inclusive de seu próprio partido, e a enfurecer outros setores de linha dura para os quais nenhum processo com o Irã bastaria, exceto se o Irã desistisse completamente de seu programa nuclear e se houvesse uma mudança de regime.
Quando se trata de Cuba, Washington também se beneficia de um consenso internacional completo, embora seja um consenso quanto ao fracasso e à insensatez das sanções, e de uma opinião pública favorável quanto aos méritos de um processo diplomático. Mas a comparação não vai além disso. Em suma, a Casa Branca sabe muito bem que Cuba não possui programa nuclear, não apoia terroristas (na verdade, facilita sua incorporação ao processo democrático, no caso da Colômbia), não tem tropas na África ou guerrilheiros na América Latina e não permite que o crime organizado e o tráfico de drogas transitem por suas águas ou atravessem seu território. Após 55 anos de antagonismo, a Casa Branca finalmente parece compreender que a única coisa que Washington quer de Cuba --alguns o chamam de controle; outros, de democracia liberal-- não é algo que possa ser arrancado de Havana à custa de sanções.
A única coisa que Cuba poderia dar (mais ou menos) aos EUA hoje é um homem, e o sobrenome dele não é Castro. Seu nome é Alan Gross. Nesta semana, Gross completa quatro anos em um hospital militar cubano que faz às vezes de sua prisão. Ele foi preso quando trabalhava para uma companhia a serviço do governo dos EUA, instalando equipamentos avançados de satélite como parte dos programas de mudança de regime de Washington. Como esses programas são protegidos de Robert Menendez, democrata cubano-americano que hoje preside o Comitê de Relações Exteriores do Senado, a Casa Branca não fez muito, até hoje, além de exigir em vão a libertação incondicional de Gross.
Contudo, Obama pagou ao Egito US$ 5 milhões pela soltura de americanos detidos. Trocou espiões com Moscou. Negociou a libertação de turistas mochileiros do Irã e de um técnico da CIA do Paquistão.
Algo como 66 senadores agora são favoráveis a negociações com Havana por Gross. Obama venceu na Flórida com 50% do voto cubano-americano. Pelo quê, exatamente, está esperando o presidente?
@JuliaSweig
Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas na