quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Quem sabe faz a hora
Os assessores estarão a postos nos intervalos do debate, mas os candidatos têm de se equilibrar nas próprias pernas. Um escorregão pode ser fatal
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Hoje é dia de debate dos candidatos à Presidência da República na TV Globo. Um programa essencial para quem ainda não está convicto da escolha que fará no próximo domingo e também para consolidar as opções já feitas.O debate é imperdível para todos que gostam de política e se preocupam com os destinos do país. O desempenho diante das câmeras do Projac pode ser decisivo para as pretensões dos três principais adversários. Como Dilma Rousseff recuperou o favoritismo, será, sem dúvida, o alvo preferencial de Marina Silva e Aécio Neves. Mas os dois nomes da oposição terão necessariamente de trocar farpas entre si, já que se acirrou a disputa para ter o direito de enfrentar a presidente Dilma no segundo turno. Se é que haverá mesmo o segundo turno.
A eleição deste ano confirmou a previsão dos especialistas: é a mais difícil desde a volta das eleições diretas para presidente em 1989. Na reta de chegada, além das dúvidas sobre a chance de Dilma ganhar no primeiro turno, há a curta atropelada de Aécio, que pode ocupar o lugar de Marina no páreo final em 26 de outubro. Enquanto Aécio sobe, Marina desce. A prosseguir esta tendência, as linhas podem se cruzar. Marina, porém, tem a seu favor o retrospecto de 2010, quando, menos conhecida , conseguiu 20 milhões de votos. Ela conta também com os votos dos evangélicos, que dificilmente vão abandoná-la. Quanto ao neto de Tancredo Neves, é beneficiado pela forte estrutura do PSDB e soube usar o espaço no programa obrigatório no rádio e na TV. Aécio cresce no Sul e no Sudeste.
No debate de hoje, os eleitores vão ver quem tem garrafas para vender. Os assessores estarão a postos nos intervalos, mas os candidatos têm de se equilibrar nas próprias pernas. Todos foram testados em simulações nos respectivos comitês de campanha. Fizeram o dever de casa. Mesmo assim, a entrada no ar, debaixo dos canhões de luz e diante de milhões de espectadores, deixa a garganta seca e traz suor ao rosto. Os concorrentes sabem que podem pôr tudo a perder em poucos minutos. Foi o que aconteceu, por exemplo, no histórico debate entre o democrata John Kennedy e o republicano Richard Nixon, que disputavam a presidência dos EUA em 1960. Elegante e sorridente (e muito bem treinado), Kennedy passou como um trator. Com um terno cinza mal cortado e a barba de fim de dia, Nixon exibia uma aparência abatida, quase sombria. Foi presa fácil para o jovial marido de Jacqueline e até hoje seu fiasco é citado pelos marqueteiros.
No Brasil, a referência continua ser o debate entre o petista Lula e o ex-governador de Alagoas Fernando Collor no segundo turno de 1989. Na primeira tentativa de chegar à Presidência, Lula já era carismático, mas inexperiente em estúdios de tevê. Estava visivelmente nervoso (dizem que se sentiu ameaçado por uma denúncia potencial) e não se saiu bem. Herdeiro de jornal e de canal de TV em Alagoas, Collor tinha domínio das transmissões ao vivo e passou mais segurança para os eleitores. No dia seguinte, no Jornal Nacional, a Globo exagerou nas tintas e mostrou uma vitória esmagadora do candidato do PRN. Para especialistas em comunicação, a edição do JN fez mais estrago nas chances de Lula do que o confronto em si.
Hoje tem debate de Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. Quem sabe faz a hora. Mas um escorregão pode ser fatal.