segunda-feira, 18 de março de 2013

Carro ficará em casa, quando transporte público funcionar
18/03/13 09:08 | Octávio Costa - Editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)
Problemas de mobilidade urbana são comuns na vida das grandes cidades pelo mundo afora. Umas sofrem mais, outras, menos. No Brasil, os casos mais clamorosos afetam a rotina diária dos habitantes do Rio de Janeiro e São Paulo.
Na capital fluminense, a hora do rush é insuportável para quem mora nos bairros da Zona Norte e na Barra da Tijuca. Na Zona Sul, tudo depende do Túnel Rebouças, inaugurado nos anos 70. Ali, se um carro enguiçar, haja paciência.
Em São Paulo, os moradores de Santo Amaro têm de sair de casa com grande antecedência e a explicação todo mundo sabe: está sendo construída a linha do metrô que passa pela avenida Águas Espraiadas.
Como consequência, a velocidade média no bairro de Borba Gato não passa de 10 quilômetros por hora no horário comercial. Fora das vias expressas, táxis e ônibus passam pelo mesmo martírio.
Os diagnósticos sobre os gargalos dividem-se em duas correntes de opinião. A mais consistente e popular aponta o automóvel como grande vilão da história. O transporte individual seria, assim, o responsável por todos os problemas das metrópoles.
É um exagero, sem dúvida, mas, num plano maior, a opção pelo modo rodoviário deixou graves sequelas no país. Nenhuma outra nação no mundo concentrou o movimento de cargas e pessoas nas estradas e nas vias urbanas como fez o Brasil.
O abandono das opções sobre trilhos tem um preço a pagar e a fatura atravessa gerações. Com a construção tardia de linhas do metrô e ferrovias de alcance limitado, o transporte público se resume aos ônibus que se somam aos automóveis, e a situação só se agrava.
Sem alternativa e diante da qualidade duvidosa do transporte público, cariocas e paulistanos preferem a solução individual, mesmo que isso signifique enfrentar intermináveis engarrafamentos e perder tempo precioso. Os mais ousados e temerários enfrentam o trânsito em cima de uma motocicleta.
Em debate promovido pelo Brasil Econômico, o secretário de Transporte do estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, garantiu que esse quadro vai mudar nos próximos anos.
A Grande São Paulo, segundo ele, ganhará um metrô comparável aos melhores do mundo. A extensão atual de 74 km mais do que dobrará e a malha de estações ficará semelhante à de Londres e Paris.
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, também é otimista. Diz que o governo Haddad vai abrir mais 150 km de corredores seletivos para ônibus e 150 km de ciclovias. Não é possível, diz, que "um terço dos paulistanos use dois terços da malha viária".
Mas, ao mesmo tempo, reconhece que "o paulistano só vai abandonar o carro se perceber que há regularidade no transporte público". Enfim, nem toda a culpa é do individualismo. Quando Rio e São Paulo oferecerem soluções eficientes de transporte integrado, os carros certamente ficarão na garagem à espera do fim de semana e de viagens mais longas.
Ao contrário do que alguns pensam, proprietários de automóveis não são masoquistas. Egoístas podem ser, mas não são sofredores por natureza.
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Octávio Costa é Editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)