quarta-feira, 6 de março de 2013




Chávez deixa para trás uma nova Venezuela
Cláudia Bredarioli   e Juliana Garçon (redacao@brasileconomico.com.br) 06/03/13 07:52
Depois de 14 anos no poder, Hugo Chávez Frías deixa a Venezuela - que recentemente passou a fazer parte do Mercosul - pronta para ser integrada à América Latina e ao mundo em um outro patamar.
O país que ele pretendia governar por duas décadas, caso completasse o último mandato para o qual foi reeleito, atravessa seu melhor momento econômico. O presidente venezuelano morreu ontem, após uma batalha de dois anos contra um câncer, anunciou o vice-presidente, Nicolás Maduro, em pronunciamento na TV. O chavismo terá que prosseguir sem seu criador.
Mas toda a transição que agora deve recair sobre Maduro - a ser confirmada em eleições que deverão ser marcadas em até 30 dias - já vinha sendo costurada desde a internação do líder venezuelano em Cuba, em dezembro.
Assim, Chávez morre como presidente, tendo sido beneficiado por uma decisão bastante discutida na Justiça para fazer seu juramento no cargo fora do prazo previsto constitucionalmente. A oposição manteve sua postura contrária à manutenção do líder no poder, mesmo depois de a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter se manifestado favorável à posição da Justiça venezuelana.
"Capitalizar a agonia é o maior trunfo dos partidários de Chávez, mas resta saber se eles estão preparados para tal situação", diz Horácio Braga, professor da Unicamp e especialista em negócios internacionais.
Chávez anunciou o nome de Maduro como seu herdeiro político poucos dias antes de embarcar para Cuba para realizar sua quarta e última cirurgia. Agora cabe ao vice fazer jus ao reconhecimento conquistado pelo presidente venezuelano diante da maioria da população que o reelegeu em outubro.
"Chávez foi eleito porque pela primeira vez os venezuelanos identificaram um presidente que governa para a imensa maioria. Que leva adiante, aos trancos e barrancos, uma verdadeira revolução. Que liquidou o analfabetismo, estendeu a atenção pública da saúde a todos, que dissemina escolas de período integral, que criou brigadas - as misiones - para dar atenção social aos desassistidos de sempre", diz o cientista político Eric Nepomuceno.
É fato reconhecido até mesmo pela oposição que a redução da pobreza tornou-se a marca indiscutível do governo chavista. E esse processo se acentuou no ano passado.
Os pobres passaram a somar 21,2% da população - uma queda de cinco pontos sobre os 26,5% registrados em 2011. Chávez conseguiu reduzir o desemprego para 6% em 2012 e o PIB do país subiu 5% no último trimestre, sem sinal de arrefecimento.
"O país deverá permanecer se organizando em torno de uma figura forte e centralizadora. Vale lembrar que a milícia de Chávez chegou a ter 800 mil pessoas, agregando, além do apoio das forças armadas, um forte apoio popular", diz José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec.
"O herdeiro de Chávez deve ser outro político de traços similares, com perfil do mandatário, que dê prosseguimento ao regime baseado na imagem do líder e na demonstração de força. É provável tenda a se apresentar como uma liderança ainda mais dura do que Chávez."
Ainda assim, dizem os especialistas, é possível esperar alguma instabilidade no cenário regional, o que deve trazer ao Brasil a necessidade de se focar na situação local, reduzindo o foco no cenário internacional.