segunda-feira, 25 de março de 2013

TEXTO


HERANÇA MALDITA DOS MILITARES


Agricultura

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500 e o Brasil descobriu a
agricultura em 2000. Durante 500 anos a agricultura foi o rebotalho
nacional. Entrava no jogo do poder de sobremesa. Mesmo quando o café era o
centro da economia nacional, a agricultura não passava de uma moeda de
exportação.

Agora, de repente, a agricultura virou a salvação da lavoura. A indústria
emperra, cresce a índices medíocres e ela dispara, comandando as exportações.

Só que os neobobos de sempre pensam que aconteceu por acaso, de milagre.

Ainda esta semana, na "Veja", o pomposo Roberto Pompeu de Toledo pergunta
"Por onde andará Alysson Paulinelli, que há 30 anos a revista `Time' elencou
entre 150 futuros líderes mundiais" (dois brasileiros, ele e Célio Borja).

Esta é uma história que os felpudos sobrenomes quatrocentões de Toledo não
lhe deixam saber. Paulinelli é o pai da nova agricultura brasileira. O que
está aí nas manchetes, nas estradas, nos portos, nas gordas estatísticas do
comércio externo nasceu há 30 anos de uma visão revolucionária dele. Em '73,
no governo Médici, o ministro da Agricultura, Cirne Lima, do Rio Grande do
Sul, criou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícolas). Mas ficou
no papel. Cirne Lima brigou com Delfim, saiu, entrou o pernambucano Moura
Cavalcanti. A Embrapa continuou uma idéia no papel. Chega Geisel em '74,
manda chamar para conversar o jovem secretário da Agricultura de Minas,
Alysson Paulinelli, saído das salas de aula e da direção da Universidade
Agrícola de Lavras, e diz a Geisel o óbvio: a agricultura brasileira só
sairia da mesmice de 5 séculos de extrativismo se sofresse uma revolução
tecnológica. Geisel o convidou para ministro:

- Vamos fazer. Paulinelli chamou o presidente da adormecida Embrapa, Irineu Cabral

e o diretor de Recursos Humanos, Eliseu Alves, e estabeleceram o rumo:

 

- Não queremos cientistas para resolver problemas da ciência, mas pararesolver os
problemas da produção.

Pegaram uma verba de US$ 200 milhões e escolheram, nas melhores
universidades brasileiras, 1.600 recém-formados e os mandaram para fazer
mestrado ou doutorado nas melhores universidades agrícolas do mundo:
Califórnia, França, Espanha, Índia, Japão, etc. Estava plantada a semente da
maior revolução já feita na agricultura da América Latina. Eliseu Alves,
logo o Eliseu Alves, que havia chegado dos Estados Unidos como uma
referência mundial como cientista e como gestor de ciência e tecnologia,
assumiu a presidência da Embrapa e implantou linhas avançadas de trabalho:

1 - Criou 14 Centros de Pesquisas, em 14 regiões do País, para pesquisar 14
produtos (exceção do café, que tinha o IBC, e do cacau, que tinha a Ceplac):
soja em Londrina, no Paraná; mandioca e fruticultura em Cruz das Almas, na
Bahia; milho e sorgo em Sete Lagoas, Minas; vinho em Bento Gonçalves, no Rio
Grande do Sul; feijão e arroz em Goiânia; gado de leite em Juiz de Fora;
gado de corte em Campo Grande; seringueira em Manaus.

2 - Criou quatro Centros de Recursos Genéticos para o cerrado, em Brasília.

Não foi milagre. Trinta anos depois, o investimento da Embrapa em
aprendizado externo e pesquisas internas explodiu a agricultura brasileira.

Não foi milagre, foi competência, visão correta da ciência e do País.

Paulinelli voltou para Minas, seus estudos, suas aulas, suas assessorias.

Eliseu Alves está em Brasília, com seus estudos, suas pesquisas, suas
consultorias, ainda hoje o grande guru da agricultura brasileira.


AAAhhh! Esses militares…!