quarta-feira, 27 de março de 2013


Toda força aos Brics, mas sem descuidar dos outros
27/03/13 08:58 | Octávio Costa - Editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)

Horas antes do início da reunião de cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul, o Brasil e a China fecharam um acordo para troca de moedas nacionais, o real e o iuane, no volume de até R$ 60 bilhões e 3 anos de prazo.

O objetivo é usar os recursos em momentos de emergência no caso de retração no crédito internacional. Com o mecanismo, que entrará em vigor no segundo semestre, os dois países deixariam de realizar em dólar mais da metade do comércio bilateral.
"Nosso interesse não é estabelecer novas relações com a China, mas expandir relações a serem usadas no caso de turbulência nos mercados financeiros", explicou o presidente do BC, Alexandre Tombini.
Ao anunciar a novidade, o ministro Guido Mantega afirmou que o Brasil está aberto a investimentos chineses em energia, na área de petróleo e gás, e em vários setores de infraestrutura onde houver sinergia.
Ele voltou a defender a criação do banco de desenvolvimento dos Brics, com capital inicial de US$ 50 bilhões, mas os russos, por enquanto, resistem à ideia. Confirmou, porém, a criação do fundo de reserva que servirá de colchão para enfrentar futuras turbulências.
Essas decisões antecederam os encontros de chefes de estado, dos quais participa a presidente Dilma Rousseff, e que servem para sacramentar as medidas propostas pelos respectivos ministros da Fazenda.
Os Brics ainda têm peso expressivo na economia internacional. Segundo o Banco Mundial, respondem por 27% do poder de compra e 45% da força de trabalho global.Brasil, Rússia, Índia e China (e a África do Sul, que se uniu ao grupo) cumprem o papel que o economista americano Jim O'Neill, da Goldman Sachs, previu.
Funcionam como contrapeso para o marasmo da economia no Velho Mundo, porém perderam força principalmente no último ano, quando a economia brasileira não decolou e a chinesa, ameaçada pela inflação, deu início a uma aterrissagem suave - para os padrões da China.
Vozes de mau agouro dizem que os Brics se transformaram em obra de ficção. O único integrante do grupo que merece crédito seria a China, os demais fariam parte da vala comum da decadente economia mundial, o Brasil inclusive.
Acontece que os especialistas cometem exageros na alta e na baixa. A economia brasileira, é certo, não está bombando, mas ainda tem muita gordura para queimar. E os Brics também.
O governo Dilma Rousseff deveria dar ouvidos a outro tipo de crítica, esta, sim, procedente.
É importante valorizar as relações bilaterais com os parceiros da sigla de O'Neill e também com os vizinhos do Mercosul, mas, como se faz nas aplicações financeiras, não é recomendável pôr todos os ovos na mesma cesta.
Ao dar ênfase ao mundo emergente, o país corre o risco de perder espaço no intercâmbio com os Estados Unidos e os países desenvolvidos da Europa.
Por sinal, Chile, Colômbia, Peru e México têm avançado muito nessa área, o que já preocupa os empresários do setor externo.
Mais acertado, para o Brasil, é fortalecer os laços bilaterais em todas as frentes do comércio exterior.
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Octávio Costa é editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)