segunda-feira, 18 de junho de 2012

MASSACRE EM RUANDA - PARA NUNCA MAIS SE ESQUECER

SHAKE HANDS WITH THE DEVIL

Kigali, a capital de Ruanda, é uma das cidades mais bem organizadas da África.

As ruas são asfaltadas. O tráfego é intenso, mas nem de longe se compara aos engarrafamentos de Luanda.

Os motoristas respeitam os sinais de trânsito. Bom, há sinais de trânsito e eles funcionam.

A polícia não pede propina na rua.

O principal idioma do país é o kinyarwanda, falado por toda a população. O inglês e o francês também são idiomas oficiais, mas é comum encontrar nas ruas de Kigali quem só fale inglês e não entenda nada de francês e vice-versa. Entre eles, vale mesmo o kinyarwanda.

Os ruandenses são muito simpáticos e ainda atravessam um longo processo de reconciliação.

Em 1994, Ruanda viveu um dos piores episódios da história da humanidade.

Num período de 90 dias, mais de um milhão de ruandenses da etnia tutsi e hutus considerados moderados foram assassinados com requintes de crueldade no episódio que ficou conhecido como o genocídio de Ruanda.

Tudo começou com a morte do presidente de Ruanda, Juvenal Habyarimana, da etnia hutu. O avião em que ele viajava foi abatido por um foguete quando se preparava para pousar no aeroporto de Kigali.

O atentado foi o sinal para o início do genocídio.

No dia seguinte ao acidente, milhares de tutsis começaram a ser mortos em todo o país.

Armados com machetes, facões, facas, pedaços de pau, armas ou qualquer objeto pontiagudo ou cortante, ruandenses da etnia hutu, insuflados pelos hutus que controlavam o governo, foram às ruas atrás dos tutsis e dos próprios hutus que adotavam uma postura de conciliação entre as duas etnias.

Talvez ainda leve tempo para se entender o que aconteceu em Ruanda.

O genocídio não foi praticado apenas pelas tropas do governo. Professores, médicos, funcionários públicos, cidadãos comuns da etnia hutu saíam às ruas todas as manhãs e passavam o dia à caça dos tutsis.

Tutsis que eram seus vizinhos, colegas de igreja, de trabalho, amigos de infância, pessoas com quem conviviam diariamente. Jogavam bola juntos, bebiam juntos, namoravam, casavam e tinham filhos.

Os tutsis fugiram das cidades e se refugiaram nos campos, nas florestas, nos pântanos na fronteira com o Congo. Deixaram tudo para trás. Empregos, casas, bens.

Todas as manhãs, os hutus se embrenhavam no mato, nas florestas, nos pântanos para matar os tutsis. Decepavam membros, estupravam as mulheres, jogavam bebês e crianças contra as árvores e paredes.

E voltavam no fim do dia com o espólio da barbárie. Dinheiro, jóias, roupas. As mulheres hutus entravam nas casas abandonadas dos tutsis para recolher o que havia.

O genocídio durou três meses. As tropas da ONU estacionadas no país foram incapazes de impedir os assassinatos.

O genocídio virou filme. Hotel Ruanda, baseado em fatos reais. O hotel que serviu como uma das locações está lá em Kigali. É o Hotel Des Milles Collines.

O título do post, Shake Hands with the Devil, é o nome do livro escrito pelo general canadense Roméo Dallaire, que comandou as forças da ONU em Ruanda entre julho de 1993 e setembro de 1994.

Em 18 de julho de 1994, o Exército Patriótico Ruandense entrou em Kigali e derrotou as forças do governo extremista Hutu.

Os números oficiais do genocídio são: mais de 300 mil órfãos, centenas de milhares de mulheres estupradas, mutiladas e infectadas com o vírus da Aids e todo o tecido social do país comprometido.

Ainda hoje, vários processos em Ruanda e no Tribunal Criminal Internacional para Ruanda, em Arusha (Tanzânia), buscam punir os responsáveis pelo genocídio.

Em Kigali, um Memorial do Genocídio foi construído para não deixar que o mundo esqueça das atrocidades cometidas e para não permitir que se repitam.

As imagens são chocantes. Numa das salas, diversos crânios de ruandenses massacrados estão expostos. Vários estão rachados, prova da violência dos golpes que provocaram a morte.

Há também ossos dos corpos que foram abandonados ao relento em todo o país.
Ossos das vítimas expostos no Memorial do Genocídio, em Kigali


E algumas das armas usadas nos massacres.

Hoje, Ruanda é um país próspero. A economia cresce a taxas anuais médias de 6% desde 2003.

Cerca de 80% da população trabalha em alguma atividade ligada à agricultura.

O governo quer mudar esse perfil e transformar o país num centro tecnológico e financeiro no coração da África. Para isso, investe pesado na educação dos ruandenses, principalmente em ciência da computação. O objetivo é que o país seja um produtor de softwares. Há um esforço enorme para atrair investimentos estrangeiros.

O turismo é outra área com grande potencial. Os gorilas que habitam suas montanhas e colinas (o mote de Ruanda é “O país das mil colinas”) atraem milhares de visitantes todos os anos.

Se você vier à África e tiver oportunidade, não deixe de conhecer Ruanda.

E se você for a Kigali, não pode ir embora sem visitar o Memorial do Genocídio.