quarta-feira, 2 de setembro de 2015


ONU: Gaza pode ficar ‘inabitável’ em menos de cinco anos devido ao conflito de 2014 e à estagnação atual








Um novo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) alerta para a situação dos refugiados da Palestina em Gaza, após 8 anos de bloqueio econômico e três operações militares.

 

Crianças palestinas na Faixa de Gaza. Foto: ONU/Milton Grant

Um novo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) sobre a assistência ao povo palestino, lançado nesta terça-feira (1), afirma que Gaza pode se tornar “inabitável” até 2020 caso as tendências econômicas atuais persistam.

Além de oito anos de bloqueio econômico, nos últimos seis anos Gaza suportou três operações militares que abalaram sua capacidade de exportar e produzir para o mercado interno, devastaram a infraestrutura já debilitada, não deixaram tempo para a reconstrução e recuperação econômica e aceleraram o “de-development” – processo pelo qual o desenvolvimento não é apenas impedido mas também revertido – do Território Palestino Ocupado.

O relatório destaca as crises severas em Gaza relacionadas a água e eletricidade, bem como a destruição de infraestruturas vitais durante as operações militares em julho e agosto de 2014. Por exemplo, 1,8 milhão de habitantes de Gaza dependem de aquíferos costeiros como sua principal fonte de água doce, mas 95% dessa água não é segura para beber.

O documento também estima que as perdas diretas (excluindo as pessoas mortas) das três operações militares, que aconteceram entre 2008 e 2014, equivalem a três vezes o produto interno bruto de Gaza. Entretanto, o custo total pode ser substancialmente maior quando as perdas econômicas indiretas estão incluídas e são adicionados fluxos de renda futura perdidos e capacidades produtivas destruídas.

Além das 500 mil pessoas que foram deslocadas em Gaza como resultado da operação militar mais recente, o relatório estima perdas econômicas significativas, incluindo a destruição ou danos graves de mais de 20 mil casas palestinas, 148 escolas, 15 hospitais e 45 centros primários de saúde.

Também 247 fábricas e 300 centros comerciais foram total ou parcialmente destruídos. Danos graves foram infligidos à única usina elétrica de Gaza. Somente o setor agrícola teve 550 milhões de dólares em perdas.

Estima-se que, mesmo antes das operações militares em julho e agosto de 2014, a capacidade de oferta de energia elétrica de Gaza não era suficiente para satisfazer 40% da demanda, segundo dados de 2012. A crise de eletricidade e energia é agravada também pelo fato de a Autoridade Nacional Palestina não ter permissão de desenvolver e utilizar os campos de gás natural descobertos desde a década de 1990 na costa mediterrânea de Gaza.

Em 2014, o desemprego em Gaza atingiu 44%, o maior nível já registrado. O desemprego é particularmente grave entre as mulheres jovens refugiadas, com 8 em cada 10 mulheres desempregadas. O bem-estar econômico dos palestinos que vivem na Faixa de Gaza é pior hoje do que há duas décadas.

O produto interno bruto per capita diminuiu em 30% desde 1994. A insegurança alimentar afeta 72% das famílias e o número de refugiados palestinos que dependem de distribuição de alimentos de agências das Nações Unidas aumentou de 72 mil em 2000 para 868 mil em maio de 2015, o que representa metade da população de Gaza.

O relatório sustenta que, mesmo antes das três operações militares, o bloqueio econômico em vigor desde 2007 já tinha levado à interrupção de operações produtivas e perda de emprego. As exportações a partir de Gaza foram quase completamente bloqueadas, importações e transferências de dinheiro severamente restringidas e os bens humanitários mais básicos suspensos.

O documento alerta que o apoio dos doadores continua sendo uma condição necessária, mas insuficiente para a recuperação e reconstrução de Gaza. A ajuda dos doadores continuará sendo de vital importância, mas não irá reverter o “de-development” e o empobrecimento em curso.