sexta-feira, 9 de novembro de 2012

ANALISANDO UM POSSÍVEL ATAQUE PREVENTIVO DE ISRAEL CONTRA O IRÃ

ANALISANDO UM POSSÍVEL ATAQUE PREVENTIVO DE ISRAEL CONTRA O IRÃ

 O presente artigo é baseado em um estudo de Scott Johnson e Emily Chorley, analistas da revista Jane’s Defense Weekly e publicado em 26/03/2012.
 CMG (RM-1) MARCIO BONIFACIO MORAES (*)
Com um gráfico em forma de bomba e caneta na mão, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, traçou para o programa nuclear do Irã uma "linha vermelha" que indicaria o ponto exato em que Teerã terá quantidade suficiente de urânio enriquecido para produzir uma bomba atômica. Da tribuna do plenário das Nações Unidas, no dia 27 de setembro do corrente ano, o premier instou a comunidade internacional a agir com rapidez e expressou confiança em que os EUA liderem o cerco ao Irã. Segundo o líder israelense, o patamar indicado pode ser ultrapassado em meados de 2013, abrindo as portas para uma ação militar contra as instalações nucleares iranianas. A república islâmica diz que seu programa nuclear tem fins pacíficos.  Essa advertência do premier Netanyahu mostra a crescente preocupação de Israel com a pretenção da República Islâmica do Irã se tornar possuidora de artefatos nucleares capazes de desferir um eventual ataque contra Israel. Assim, o propósito do presente trabalho é o de analisar possíveis linhas 2 de ação que poderão ser adotadas por Israel para realizar um ataque preventivo2 às instalações nucleares do Irã. 2 Ataque preventivo ou preemptivo pode ser definido como um ataque de surpresa lançado com a intenção de contra-atacar ou antecipar uma ofensiva inimiga obtendo, assim, a Surpresa Estratégica. O exemplo mais significativo foi o da "Guerra dos Seis Dias" iniciada em 05/06/1967 contra o Egito. 3 Ações encobertas ou Cover Action são procedimentos que buscam influenciar, diretamente, eventos em um país. Em termos de intensidade podem variar desde a persuasão, propaganda até ações paramilitares. São normalmente alegadas "Raison D’etat" – o Estado está acima de qualquer coisa e descritas como uma atividade intermediária entre a diplomacia e a guerra. 4 O sistema de Inteligência de Israel é formado, basicamente, pelo MOSSAD, responsável pelo campo externo e a espionagem, o Shin Bet que cuida da contraespionagem e do campo interno e pelo AMAN que a Inteligência de Militar de Defesa responsável, também, pela Inteligência de imagens e de sinais. Deve ser lembrado que Israel já adotou essa iniciativa por algumas vezes. A primeira, como já dito, ocorreu na Guerra dos seis Dias em 1967, um dos mais perfeitos exemplos de suspresa estratégica da História Militar. A segunda em 07 de julho de 1981 quando um ataque aéreo de surpresa destruiu um reator nuclear que se encontrava em construção a cerca de 17 km a sudeste de Bagdad –Iraque (Operação Babilônia). A terceira ocorreu em 06 de setembro de 2007 quando realizou um ataque aéreo, também de surpresa, contra um reator nuclear localizado na região de Deir ez-Zor – Síria (Operação Pomar).
No caso específico do Irã, desde 2007, Israel já estaria promovendo Ações Encobertas
3 cujo principal propósito seria o de retardar o programa nuclear iraniano. Elas vão desde o misterioso assassinato de técnicos e cientistas que seriam ligados ao programa nuclear até ações de sabotagem. Em todas as vezes, Israel negou a autoria dessas ações. O sistema de Inteligência israelense
4 também realiza um acompanhamento do progresso do programa nuclear iraniano, bem como o controle das suas instalações, por intermédio da Inteligência de Imagens (IMINT). Eles, certamente, serão os reponsáveis pelos dados e conhecimentos que indicarão a Israel o momento adequado para uma ação militar. De acordo com uma análise dos últimos pronunciamentos de dirigentes israelenses, a falta de uma solução negociada para a crise e a continuidade do programa, certamente levarão a Israel adotar medidas para solucionar o
3 impasse. Assim, podemos inferir que um ataque aéreo preventivo, seria uma opção possível. Entretanto, ela se apresenta de uma forma mais complexa do que as anteriores. Isso se deve em razão da distância a ser percorrida pelas aeronaves, violando o espaço aéreo de vários países e a necessidade de se efetuar reabastecimentos no ar. Assim, passaremos a analisar detalhadamente essas opções:
1 – A rota mais direta de ataque seria através da Jordânia e do Iraque. Nesse cenário, dificilmente a Jordânia consentiria em uma livre passagem por seu espaço aéreo.
2 – A segunda opção que se apresenta seria uma incursão através do espaço aéreo da Arábia Saudita e do Iraque. Deve ser ressaltado que a Arábia Saudita é o pais que possui o melhor sistema de defesa aérea do Oriente Médio, fato que poderia ocasionar a interceptação das aeronaves, dificultando a ação israelense.
3 – A outra variante a ser considerada seria a de voar sobre a Síria e o Iraque. Em razão dos recentes conflitos na Síria, essa opção se mostra viável, pois o seu sistema de defesa aéreo poderia se encontrar, de certa forma, fragilizado. Entretanto, em 22 de junho um avião de caça F-4 turco foi abatido por mísseis do sistema de defesa sírio indicando que o sistema, não obstante a convulsão social, permanece operacional.
4 – Uma outra opção que se apresenta, seria a de voar pelo sul da Turquia. Essa rota já teria sido utilizada por Israel em 2007 quando realizou o ataque ao reator nuclear na Síria. O fato é que essa opção não parece muito factível em razão da recente deterioração das relações diplomáticas entre os dois países. Ademais, em razão dos problemas com a Síria, a Turquia parece haver reforçado a sua defesa aérea justamente no sul do país.
5 – Finalmente, restaria a rota de ataque pelo Mar Vermelho, através dos Golfos de Aden e Oman, realizando uma aproximação pelo sul do Irã. Essa alternativa seria bastante difícil em razão da distância a ser percorrida e necessitaria ser do conhecimento e receber o apoio dos Estados Unidos. Ele
4 mantém o controle da região, por considerá-la estratégica para a manutenção do tráfego marítimo, principal rota da exportação de petróleo do Golfo Pérsico. FIGURA 2 - POTENCIAL ROTAS DE ATAQUE E PONTOS DE REABASTECIMENTO AÉREO PARA UM ATAQUE CONTRA AS INTALAÇÕES NUCLEARES DO IRÃ. (FONTE – JANE’S DEFENSE WEEKLY – 28/03/2012). Além dos ataques aéreos, Israel teria a opção do ataque por intermédio de mísseis balísticos Jericó III cujo alcance (cerca de 4.800 km) poderia alcançar a maioria dos alvos pretendidos. Entretanto, os ataques aéreos são mais acurados e o emprego de mísseis teria de ser, mandatoriamente, com emprego de ogivas nucleares. Isso poderia se transformar em um fator extremamente negativo para Israel e uma catástrofe geopolítica sem precedentes em todo o Oriente Médio. Uma outra opção considerada, embora remota, seria a de realizar um ataque por mar, utilizando submarinos convencionais5, como plataforma de lançamento de mísseis de cruzeiro. 5 Israel possui três submarinos da classe Dolphin, sendo que existem mais dois em construção. 5 Entretanto, pouco se sabe sobre o alcance dos mísseis que Israel possui. Considerando que a distância entre o Golfo de Oman e Teerã é de cerca de 1.300km, essa hipótese parece remota, em razão do raio de ação padrão para um míssil de cruzeiro.
Levando em consideração as principais armas que Israel possui à sua disposição para atacar o Irã, o vetor aéreo parece ser o mais provável. Assim, torna-se relevante fazer uma breve análise sobre os meios aéreos do Irã. Defender o espaço aéreo iraniano é um grande desafio, em razão de suas dimensões territoriais e do seu relevo (montanhoso). Isso obriga a criação de uma rede de estações fixas de radar perfeitamente integrada com aeronaves, para prover um alarme aéreo antecipado
6. Atualmente o Irã não possui um grande potencial de aeronaves AEW7. No que tange a sua aviação de caça e interceptação a situação seria semelhante, em decorrencia do longo embargo de armamento e seus sobresalentes, decretado ao país8. 6 Alarme Aéreo Antecipado ou Airborne Early Warning (AEW) é provido por aeronaves que possuem sensores capazes de detetar eventuais invasões do espaço aéreo.
7 Segundo World Military Aircraft Inventory", Aerospace Source Book 2008, o Irã só teria dois aviões IL 76 AEW.
8 Segundo o World Air Forces - Historical Listings, o Irã teria apenas dois esquadrões operativos de F-14 Tomcat (cerca de 79 aeronaves) 48 MIG-29, 24 Mirage F1, 65 F-4D e F-4E.
9 Bombas denominadas de Bunker-bursting (Guided Bomb Unit GBU-28). Embora Israel possua superioridade aérea, a tarefa de conseguir destruir as instalações nucleares do Irã parece um tanto complexa. Primeiramente, em razão de sua localização (vide figura 3), uma vez que elas estão dispersas por boa parte do território. Em segundo lugar, elas passaram a ser construídas em subterrâneos, na profundidade média de 10 metros abaixo do nível do solo e com a espessura de suas paredes estimada em cerca de dois metros de concreto. Mesmo contando com munição especial9, isso seria um grande desafio para os pilotos israelenses. 6 FIGURA 3 – PRINCIPAIS INSTALAÇÕES NUCLEARES IRANIANAS. (FONTE – GEOPOLITIQUE, YVES LACOSTE, LAROUSSE – 2008). Concluíndo, poderíamos afirmar que em razão das distâncias a serem percorridas pelas aeronaves e pelas características das instalações nucleares iranianas fazem desse ataque uma operação de alto risco para Israel, especialmente se não contar com um apoio externo. Mesmo bem sucedido, esse ataque só paralisaria, de forma momentânea, as pretenções iranianas em prosseguir em seu projeto nuclear. (*) O autor é Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM -1), membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e conferencista emérito da Escola Superior de Guerra.