quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sem sinais de reversão na economia europeia
21/11/12 08:18 | Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)

Novos indicadores acerca do desempenho da economia na zona do euro divulgados recentemente mostram que pouco ou nada mudou ao longo de 2012. O PIB da região registrou nova queda indicando ainda a presença de um quadro recessivo.
Esse cenário não seria tão dramático se o futuro se mostrasse mais promissor no médio prazo.
As ações dos governos europeus, até o momento, limitaram-se apenas a evitar o pior: o colapso do sistema financeiro europeu e global. Sob essa lógica, as medidas adotadas não visaram primordialmente reverter o quadro recessivo instalado.
Ao mesmo tempo, a lógica do resgate dos países excessivamente endividados na zona do euro impõe um ajuste que prevê aumentos de impostos e/ou cortes de gastos do governo.
Essa natureza de política fiscal se traduz em um menor impulso em termos de demanda agregada e menor perspectiva de crescimento econômico nesses países. A resultante desse processo se verifica em taxas de desemprego elevadíssimas em vários países da zona do euro e crescentes tensões sociais e políticas.
Tragicamente, os países nessa região não dispõem de maiores instrumentos para reverter essa dinâmica. A moeda única elimina completamente a possibilidade desses governos agirem do ponto de vista da política monetária. Ao mesmo tempo, o mecanismo do câmbio como uma forma de tentar reativar a economia também foi eliminado com a unificação monetária.
A melhor alternativa para esses países seria melhorar sua competitividade rapidamente, mas, na ausência de ganhos de produtividade significativos, isso só seria possível via redução de custos, o que implicaria em cortes de salários e benefícios.
Essa via, porém, se mostra muito pouco factível no tenso ambiente político e social atual. Dados esses elementos, fica claro que as chances da zona do euro sair do quadro recessivo no médio prazo são baixíssimas.
As melhores chances desses países se recuperarem recaem sobre uma retomada mais robusta do crescimento econômico global. No entanto, esse parece ser um cenário muito pouco provável.
Em função disso, a Europa concentrará ainda os maiores riscos do ponto de vista econômico nos próximos trimestres: a possibilidade de uma ruptura na região em 2013 não deve ser inteiramente descartada. Essa não é o melhor dos mundos para a economia brasileira no ano que vem.
O crescimento econômico do Brasil tem recorrentemente permanecido abaixo das expectativas ao longo de 2012. As perspectivas para o ano que vem apontam também para um crescimento baixo, de, no máximo, 3%.
Até o momento esse desempenho econômico pífio da nossa economia não tem se refletido sobre o emprego: a taxa de desemprego brasileira tem permanecido em patamares significativamente baixos ao longo dos últimos anos e existe escassez de mão de obra em vários segmentos especializados.
Porém, o governo brasileiro, diferentemente dos governos europeus, tem instrumentos de política econômica a seu dispor, podendo ser utilizados para estimular a demanda agregada e evitar a recessão no País. Cabe ao governo decidir o melhor momento de utilizá-los.
Rogério Mori é Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)