sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


Ponto Final - O ouro de Putin em Sochi

14/02/14 10:45 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)

São incontáveis as maldades atribuídas a Joseph Stalin, que comandou a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), após a morte de Vladimir Lênin, de 1924 a 1953

A principal delas, a perseguição implacável aos adversários intra e além fronteiras. Muitos de seus críticos, que engrossam a postura anticomunista com doses de antistalinismo, chegam a compará-lo a Hitler, o que não deixa de ser um exagero. Mesmo por que foi o líder soviético o artífice da expulsão das tropas nazistas do solo da URSS, dando início à derrocada do Terceiro Reich. Em meio a tantas críticas, ao menos um ato de Stalin merece reconhecimento meritório, que é a recuperação do balneário de Sochi, a "Pérola do Mar Negro".

Embora se projetasse como centro turístico desde os tempos dos czares, quando já atraía visitantes endinheirados, a cidade, afetada pela guerra civil que levou os bolcheviques ao poder, em 1917, só começou a se consolidar como balneário, a partir de 1934, quando Stalin ordenou uma reforma geral na sua infraestrutura, dando-lhe muitas das características que mantém até hoje. O próprio dirigente instalou ali sua casa de verão, um dos locais mais visitados pelos turistas russos.

Pouco conhecida nos roteiros turísticos ocidentais e com a desvantagem de, mesmo na condição de balneário, se localizar numa região de clima frio, Sochi só passou a ser mais citada globalmente ao ser escolhida, em 2007, para sediar os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano.

Mais de sete décadas depois da grande reconstrução, entrou em cena o presidente Vladimir Putin, agora sem o bloco das 15 repúblicas que compunham a URSS, mas mantendo no governo uma postura que seus adversários chegam a comparar com a da era stalinista.

Alternando-se como presidente ou primeiro-ministro, Putin comanda a política russa desde 1999 e se notabilizou pela maneira como recuperou para o Estado russo empresas privatizadas após o esfacelamento da URSS, entre elas a Gazprom, gigante global de petróleo e gás reestatizada em 2004.

No plano político, contudo, tem enfrentado fortes obstáculos. Ao assumir, herdou a crise da Chechênia, que se declarou independente da Rússia e levou a um dura resposta militar. Embora tenha mantido a região sob controle da Rússia, não evitou que os insurgentes sobrevivessem, dominados por militantes islâmicos.

Externamente, seu apoio ao ditadora Bashar al-Assad, na Síria, e a pressão que faz para manter a Ucrânia longe da União Europeia, colocam-no em confronto com os Estados Unidos e com a Europa Ocidental. Uma situação que, em muitas oportunidades, faz lembrar o período da "guerra fria".

Os jogos de Sochi surgiram, assim, como uma grande oportunidade para o dirigente russo tentar melhorar a imagem. E, pelo que se viu até agora, está conseguindo. A beleza e a imponência da cerimônia de abertura no dia 7, "de encher os olhos", como relatou o repórter da AFP, surpreendeu positivamente e foi vista por telespectadores do mundo todo. O mesmo acontece com as competições.

Mantida essa trajetória até o encerramento, dia 23, o presidente russo poderá se considerar vitorioso, independentemente do número de medalhas que seu país conseguir. Mesmo que, para isso, tenha gasto US$ 44 bilhões em infraestrutura e mais US$ 7 bilhões que serão necessários para sua manutenção no período pós-jogos.