terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Ponto Final - A cobra vai fumar

03/02/14 10:45 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)

 

Cresce no país o desejo de mudança. A dúvida é se os eleitores querem as mudanças com a presidente Dilma Rousseff ou sem ela

O publicitário João Santana, responsável pelo marketing da campanha de reeleição de Dilma Rousseff, está preocupado com as manifestações de rua agendadas para o período da Copa do Mundo. Sabe que não é possível avaliar de antemão o desgaste na candidatura oficial, mas sabe também que os respingos serão inevitáveis. E prepara um pacote de ações para tentar se contrapor ao trabalho de solapa do megaevento, que já começou nas mídias sociais, no Facebook e no Twitter. Após a pré-estreia em São Paulo, quando um manifestante foi baleado pela polícia, novos ensaios estão sendo convocados para os próximos dias, sob pretexto de protestar contra reajustes de tarifas de ônibus. O caldo, portanto, começa a engrossar.

Se Santana desembarcar no aeroporto do Rio e entrar num táxi, terá um exemplo microscópico de como se disseminou na opinião pública o sentimento negativo sobre a Copa 2014. Os motoristas estão revoltados com a total desorganização do Galeão, onde continua a imperar a bandalha com a disputa entre táxis comuns e especiais. Os profissionais do volante lamentam também o atendimento precário aos turistas, que entram nos veículos completamente desorientados.

Após expor a irritação com o improviso geral e o atraso nas obras, o discurso dos taxistas se volta contra o custo elevado da Copa do Mundo e o desperdício de recursos públicos. Se gastaram bilhões com estádios, por que não fazem o mesmo com hospitais públicos e escolas, eternamente abandonados?

O marketing oficial tem uma tarefa árdua pela frente. Quando taxistas começam a falar mal de alguma coisa, é sinal de que algo está afetando o humor da classe média. Eles são formadores primários de opinião. E usam o tempo gasto no itinerário para influenciar seus passageiros. São conservadores em geral, mas costumam expressar a voz do povo. Sem dúvida, há insatisfação no ar. Ou como indicam as pesquisas do Ibope, cresce no país o desejo de mudança. Todos querem o aprimoramento dos serviços essenciais, como transporte, educação e saúde. A dúvida dos institutos de pesquisa é se os eleitores querem mudança com a presidente Dilma Rousseff ou sem ela.

Enquanto essa zona cinzenta não de desfaz, o governo resolveu se mexer antes do início da campanha eleitoral. João Santana desenvolve uma campanha institucional para defender a realização da Copa no Brasil. Em sua explicação, serão "várias ações, vários instrumentos e várias linguagens". Vem aí, portanto, uma avalanche de esclarecimento sobre os investimentos da União e dos estados em mobilidade urbana e na melhoria dos serviços básicos. Ainda se ouvirá falar muito dos pactos assumidos por Dilma durante a onda de protestos de junho do ano passado. Tudo será feito para mostrar à sociedade os ganhos que o país terá com a maior festa do futebol.

No aquecimento do esforço publicitário, rolou a cabeça da jornalista Helena Chagas, ministra da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Assume hoje o cargo o também jornalista Thomas Traumann. Ambos são experientes e respeitados pelos colegas. Mas Thomas tem o perfil mais adequado para os embates políticos que serão travados neste ano de eleições. Além disso, é mais afinado com João Santana e também com o ex-ministro Franklin Martins, homem de confiança de Lula e um dos principais articuladores da reeleição. Com o novo ministro, o governo acumula forças contra os futuros protestos de rua e também para enfrentar a disputa sucessória. Como se dizia na FEB, a cobra vai fumar.