Observatório da Torre Alta da Amazônia coletará dados para estudos de mudanças climáticas
Com 325 metros de altura, a torre localizada na RDS do Uatumã é o mais
novo e maior instrumento do mundo para estudos das alterações no clima do
planeta. Ela demorou sete anos para ser erguida
24 de Agosto de 2015
São 350 quilômetros -
aproximadamente seis horas partindo de Manaus - de ônibus, barco e camionete
até chegar à Estação Científica do Uatumã, onde pesquisadores receberam
oficialmente, no último sábado, o Observatório de Torre Alta da Amazônia
(ATTO). Com 325 metros de altura, a torre é o mais novo e maior instrumento do
mundo para estudos de mudanças climáticas.
Construída ao longo dos últimos sete anos na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a densa floresta tropical com pouca
intervenção humana e diferentes tipos de vegetação e relevo (planícies,
declives e enormes platôs) impuseram grandes desafios para a conclusão do
projeto. Mas, vencidas todas as dificuldades, o resultado da parceria entre o
Brasil e a Alemanha, por meio do Experimento de Grande Escala de
Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), marca um momento histórico para a ciência
e para o planeta.
Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC), o físico Paulo Artaxo adiantou que a torre irá alavancar a ciência na
Amazônia de uma “maneira espetacular”. “Há três anos fazemos estudos na torre
de 85 metros (próxima à ATTO), mas agora será muito mais ampliado com a torre
de 325 metros. Vamos poder fazer coisas que a gente nunca conseguiu fazer
antes. Agora teremos um ar muito mais misturado lá em cima”.
Foto: Lucas Silva
De acordo com o cientista, as pesquisas tentam elucidar o
papel das emissões das plantas para a atmosfera. “São informações preciosas
sobre o funcionamento do ecossistema amazônico, como estudos de como as plantas
acabam controlando o clima da região através de emissões que ajudam a nuclear
nuvens e a realimentar fortemente o sistema hidrológico da Amazônia”.
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a
Universidade do Estado do Amazonas (UEA) são parceiros do Instituto Max Planck
de Química (MPIC) na coordenação do projeto. No total, foram R$ 28 milhões,
sendo R$ 13 milhões aportados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep),
por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e a outra metade
pelo governo alemão.
Para o diretor do Inpa, Luís Renato França, a Amazônia se
tornou, definitivamente, a grande protagonista no cenário de estudos de
mudanças climáticas. “É um momento esplendoroso para a Amazônia, para o Brasil
e para o planeta. Nós não sabemos pra onde a gente vai, mas sabemos que estamos
no caminho certo e vamos adiante”.
Atualmente, cerca 300 cientistas de todo o mundo coletam
dados nas torres do Programa LBA. O ministro de ciência e tecnologia, Aldo
Rebelo, sinalizou novas parcerias entre os países. “O Brasil e a Alemanha
celebram uma conquista importante, que não será de uso só dos dois países, pois
as informações serão partilhadas com pesquisadores de todo mundo. Temos
conversado e eu disse que precisávamos da mesma ousadia e ambição em futuras
cooperações”.
Parcerias entre institutos e UEA
Os alunos dos cursos de metereologia e engenharia química da
Universidade do Estado do Amazonas (UEA) já podem se considerar privilegiados.
Além de terem oportunidade de viver na Amazônia, agora poderão produzir ciência
de alto nível, conforme define o reitor Cleinaldo Costa.
“Para os alunos da UEA é um momento muito importante. Somos
uma universidade de apenas 15 anos e já estamos participando de um projeto de
volume de qualidade científica mundial. Sobretudo, tendo a oportunidade de ter
nossos pesquisadores e alunos inseridos numa oportunidade ímpar como essa”,
declarou.
Vice-presidente do Instituto Max Planck de Química (MPIC), da
Alemanha, Ferdi Schuth, acredita que os ‘insights’ (ideias) dos cientistas
ajudarão a proteger, futuramente, o clima do planeta Terra. “Este é um momento
para agradecer a todos que deram seu suor para que a torre se tornasse
realidade e aos cientistas que tiveram ideia de construir e desenvolver os
conceitos. Está claro que os s dados coletados pelos pesquisadores ajudarão a
entender o clima e a Amazônia, que é um grande tesouro do Brasil e da
humanidade”.
Estrutura
A grande questão que os pesquisadores da ATTO pretendem
responder é como a Amazônia influencia e é influenciada pelos processos de
interação biosfera-atmosfera, além das mudanças do clima.
Foto: Lucas Silva
A torre tem uma estrutura estaiada, presa por cabos,
completamente vazada para ecoar o ar com pouca distorção. Com 325 metros, é
possível monitorar uma área atmosférica de mil quilômetros quadrados.
Análise: Paulo Artaxo
Pesquisador sobre mudanças climáticas e membro do IPCC
“Fantástico laboratório”
Durante as pesquisas nós tentamos, por exemplo, elucidar o
papel das emissões das plantas para a atmosfera e como as plantas acabam
controlando o clima da região através de emissões que ajudam a nuclear nuvens e
a realimentar fortemente o sistema hidrológico da Amazônia.
Essa torre é a única em qualquer região tropical que possui
essas características. Existem torres similares, sendo uma na Sibéria e outra
similar no meio dos Estudos Unidos, mas não como a ATTO, que nos dará uma
vantagem estratégica nas pesquisas que estamos realizando. Dados coletados nas
torres de 80 e 50 metros já estão sendo apresentados em várias conferências
científicas. O que estamos descobrindo de coisas novas são alimentados nos
modelos climáticos globais e a ATTO vai ajudar a aprimorar esse modelo. Por
exemplo, uma coisa que os modelos erram muito é em relação a precipitação das
regiões tropicais, porque os processos de formação de nuvens e chuvas em
regiões tropicais não são bem conhecidos. A torre ajudará a ciência a desvendar
esses novos mistérios que estão aparecendo. Temos que mobilizar a comunidade
científica para usar da melhor maneira possível esse fantástico laboratório
atmosférico.