Análise: EUA e Irã se unem para combater a Al Qaeda
MÁRIO CHIMANOVITCH
ESPECIAL PARA A FOLHA
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Uma aliança militar até então impensável, paradoxal
em todos os sentidos, e que vai envolver troca de informações de inteligência e
possivelmente ações diretas com apoio logístico de tropas, está vigorando em
segredo entre os Estados Unidos e o Irã.
Essa aliança, não subscrita em nenhum documento ou
protocolo oficial, é fruto do processo de distensão entre Washington e Teerã e
tem como objetivo combater um ameaçador inimigo comum: a Al Qaeda, extremamente
ativa mesmo com a morte de seu líder, Osama bin Laden.
Classificar a Al Qaeda como inimigo perigoso não é
mera figura de retórica.
Atuando na Síria contra as forças de Bashar
al-Assad, com apoio financeiro sunita (leia-se Arábia Saudita), os combatentes
dessa organização têm infligido pesadas perdas às tropas governamentais e às
milícias do Hizbullah, aliadas do Irã, que as apoiam.
Essa atuação perpetua a indefinição do conflito
sírio, ao passo que no Iraque se afigura como uma situação extremamente mais
complicada.
No sábado passado, a estratégica cidade de Falluja
foi capturada pelo grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e da Síria, com
empenho decisivo das forças da Al Qaeda, à qual o grupo é ligado.
O fato é visto com gravidade pelos estrategistas
militares americanos, já que se trata da primeira vez que a rede terrorista
ocupa uma importante área urbana do Iraque desde a invasão norte-americana de
2003.
Alem de Falluja, os extremistas sunitas dominam
áreas residenciais de Ramadi, capital da província e foco de grande agitação
política contra Bagdá.
A situação torna-se mais controversa ainda quando
se sabe que Al Qaeda e Israel têm no Irã um adversário comum. Os Estados
Unidos, no caso do Iraque, prometem entregar material sofisticado de vigilância
e ataque às forças iraquianas, tais como drones (aviões não tripulados) e
foguetes de precisão.
Não se espera, é claro, que Israel venha a ter
atitude semelhante armando os inimigos do Irã, como a Al Qaeda, que pregam a
destruição do Estado judeu.
Por outro lado, apontam analistas israelenses, a
situação explosiva ameaça envolver gradualmente o Líbano.
O atentado da semana passada em Beirute, mais
precisamente em Dahiyeh, reduto do Hizbullah, é atribuído a forças ligadas à Al
Qaeda.
É importante lembrar que, além de buscar vingar o
assassinato de Mohammed Chatah, ex-ministro e ferrenho crítico do Hizbullah,
pode ter sido também uma resposta à prisão, pelo Exército, de Majed al-Majed,
chefe das Brigadas Abdullah Azzam, umbilicalmente ligadas à rede Al Qaeda.
MÁRIO
CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais
brasileiros no Oriente Médio