Memória Revelada
O caos do transporte ferroviário carioca
Delma Pacífico
24/01/14 19:52
24/01/14 19:52
Na coluna de hoje, resgatamos a questão dos trens
no Rio de Janeiro. Um problema antigo e que parece não ter solução a curto
prazo
Há 15 anos, em 1º de novembro de 1998, a SuperVia
assumiu o controle do transporte ferroviário no Rio, em substituição à estatal
Flumitrens, Companhia Estadual de Trens Urbanos. A empresa administra 270
quilômetros de trilhos em oito ramais e 102 estações. Por dia, 600 mil pessoas
utilizam o meio de transporte que, quando funciona adequadamente, é dos mais
eficientes. Durante o ato de assinatura definitiva da concessão, a empresa
garantiu trens com a mesma aparência, mas 100% confiáveis. Já no primeiro dia
útil sob a nova direção, mil pessoas ficaram sem transporte. Uma composição que
seguia de Gramacho para Magé descarrilou e paralisou a circulação no ramal.
A Odebrecht passou a controlar a empresa ao
adquirir 60% do capital, em 2011. Novas promessas de melhorias foram feitas,
entre elas um sistema de comunicação que permitiria ao passageiro saber o que
acontece durante as viagens. Uma das reclamações dos usuários na quarta-feira,
quando um trem descarrilou entre as estações Maracanã e São Cristóvão e atingiu
a estrutura que sustenta os cabos da rede aérea, foi a falta de informação e
orientação por parte da empresa. Mais uma vez, muitos usuários tiveram de
caminhar sobre os trilhos.
Em 2009, causou indignação o fato de os agentes da
Segurança Ferroviária da empresa utilizarem a corda de seus crachás como
"chicotes" para empurrar os passageiros para dentro do trem, na
estação de Madureira. A SuperVia foi multada pela Agência Reguladora de
Serviços Públicos Concedidos de Transportes, a Agetransp. Com um histórico de
ocorrências que inclui além de agressão física, falhas no plano de contingência
e mal atendimento ao usuário, a empresa acumula multas no valor de R$
5.284,489,51. Em 2013, foram 83 registros.
Recorrentes, os problemas com a qualidade dos
serviços prestado pelos trens do Rio são antigos. Em 9 de julho de 1975, o
atraso de um trem com problemas causou revolta. A composição chegou em Tomás
Coelho com apenas seis vagões, superlotados e sem condições de seguir viagem.
Os passageiros depredaram e incendiaram um dos vagões da composição e a sala de
arquivos da estação.
Atitudes como essas também ocorreram mais
recentemente. Em 7 outubro de 2009, uma pane em um dos trens fez a manhã ser de
caos e fúria com a paralisação do ramal de Japeri. Dezesseis pessoas ficaram
feridas, duas estações foram depredadas e dois vagões foram incendiados em uma
terceira estação. Ano passado, passageiros ficaram trancados em vagões na
Estação Engenho de Dentro. Depois de meia hora foram avisados que teriam que
retornar à estação Quintino.
Revoltados, alguns deles atearam fogo na cabine do
maquinista.
O Rio de Janeiro é pioneiro na construção de
ferrovias, por iniciativa do capital privado. Os trilhos começaram a ligar o
estado ainda no período imperial. A Estrada de Ferro Petrópolis, também
conhecida como Estrada de Ferro Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854 por Dom
Pedro II, foi a primeira do país. Construída por Irineu Evangelista de Souza, o
Barão de Mauá, ligava inicialmente o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, a
Raiz da Serra, em Magé, encurtando o tempo de viagem até Petrópolis. Entre os
anos 1950 e 1960, com a industrialização e a urbanização, o setor rodoviário
passou a ser favorecido e as ferrovias brasileiras foram levadas ao
sucateamento. A Rede Ferroviária Federal S/A, criada em 1957 para unificar
essas empresas, foi oficialmente extinta em 2007, depois de passar por várias
crises, e de ter muitos trechos desativados.