Conflito na República Centro-Africana pode
virar guerra religiosa e extrapolar fronteiras, diz ONU
7 de janeiro de 2014 · Destaque
Deslocados pelo
conflito nas República Centro-Africana. Foto: ACNUR/H. Caux
O aumento da violência entre muçulmanos e cristãos na República
Centro-Africana pode transformar o conflito numa guerra religiosa e se espalhar
para além das fronteiras do país, alertou o subsecretário-geral da ONU para
assuntos políticos, Jeffrey Feltman, na segunda-feira (6).
Segundo ele, foram
montados postos de controle “anticristãos” e “antimuçulmanos” nos bairros da
capital, Bangui, monitorados por civis armados. A situação se repete nas
cidades de Bossangoa, Bouar, Bozoum e Paoua, que testemunham confrontos diários
entre membros das duas religiões.
A insegurança, a
falta de financiamento e o difícil acesso a certas localidades estão
dificultando as atividades da ONU e seus parceiros no país. Feltman apelou para
autoridades que têm influência sob as partes envolvidas no conflito usem de seu
poder para acabar com a violência e impedir graves violações de direitos
humanos, incluindo contra crianças.
Inabilidade do
governo ajudou a provocar crise
O conflito no país
começou há um ano, quando rebeldes Séléka, principalmente muçulmanos, lançaram
ataques que forçaram o presidente François Bozizé a fugir em março de 2013. Um
governo de transição já foi encarregado de restaurar a paz e abrir caminho para
eleições democráticas, mas os combates armados entre ex-membros do Séléka e as
milícias do grupo cristão antiBalaka têm aumentado significativamente nas
últimas duas semanas.
Feltman observou
que a incapacidade das autoridades de transição para reduzir os abusos
praticados pelo Séléka contra os cristãos durante o ano passado contribuiu para
a transformação gradual de grupos locais de autodefesa, como o antiBalaka, em
uma rebelião completa.
“Por outro lado, a
frustração das comunidades muçulmanas é o resultado de anos de marginalização
por parte dos sucessivos governos desde a independência do país há 50 anos. Por
exemplo, apesar a comunidade muçulmana representa cerca de 20% da população total
do país, não há feriados muçulmanos observados oficialmente”, disse.
Violência extrapola
capacidade da resposta humanitária
Milhares de pessoas
já morreram desde o início do conflito. Mais de 935 mil foram expulsas de suas
casas e 2,2 milhões, cerca de metade da população, precisam de ajuda
humanitária. Aproximadamente 100 mil centro-africanos estão em um acampamento
improvisado no aeroporto da capital, onde a insegurança torna difícil o
fornecimento de serviços essenciais pela ONU.
Segundo Feltman, os
deslocados precisam de abrigo, proteção e acesso à água, cuidados médicos,
suprimentos básicos, saneamento e higiene. A ajuda humanitária não está dando
conta de tantas vítimas, já que a violência e a insegurança forçaram muitos a
fugir para as florestas.
Apesar da situação
caótica, Feltman observou alguns progressos para as eleições, já que um novo
código eleitoral foi adotado e tomou posse a Autoridade Nacional Eleitoral,
formada pela sociedade civil, partidos políticos e governo, a qual o Escritório
Integrado da ONU de Construção da Paz na RCA (BINUCA) prestará