Ariel Sharon, o homem que
queria fixar as fronteiras de Israel
Estadão Conteúdo - 3 horas atrás
O
ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, falecido neste sábado aos 85
anos, após oito anos em estado de coma, foi o idealizador de um grande projeto,
o de fixar as fronteiras de Israel, algo que poderia ter modificado o rumo do
conflito israelense-palestino.
No início
de janeiro, o hospital de Tel Hashomer, perto de Tel Aviv, onde o ex-líder da
direita israelense, em estado vegetativo após um derrame cerebral em 4 de
janeiro de 2006, era tratado, anunciou que o estado de Sharon havia se
deteriorado bruscamente após uma intervenção cirúrgica. Posteriormente,
acrescentou que vários órgãos vitais haviam começado a falhar.
Nascido
no dia 26 de fevereiro de 1928 na Palestina sob mandato britânico, Sharon foi o
braço direito do fundador histórico da direita nacionalista, Menahem Begin, que
chegou ao poder em 1977, antes de revolucionar o panorama político israelense.
Como
nenhum outro dirigente, este homem com fama de "falcão" colocou sob
suspeita o sonho do "Grande Israel" ao ordenar a retirada da Faixa de
Gaza, em 2005, após 38 anos de ocupação. Até então ninguém havia se atrevido a
tocar na política de colonização para desmantelar assentamentos.
O mais
surpreendente foi a decisão ter partido daquele que foi o paladino da
colonização. Mas Sharon concluiu que Israel tinha que renunciar a manter todos
os territórios conquistados na guerra de 1967 se desejava continuar sendo um
"Estado judeu e democrático".
Algumas
decisões provocaram o ódio dos palestinos, a irritação da comunidade
internacional e muitas críticas em Israel. Mas com a retirada de Gaza recebeu
muitos elogios.
Antes,
ele havia sido um chefe de guerra implacável.
Quando
era ministro da Defesa, Israel executou em 1982 uma interminável e desastrosa
invasão do Líbano para tentar expulsar Yasser Arafat, o dirigente histórico
palestino.
Uma
investigação oficial o declarou culpado de não ter previsto nem impedido os
massacres cometidos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila em setembro de
1982 por uma milícia cristã aliada de Israel. Sharon teve que renunciar ao cargo.
Ariel
Sharon, um personagem impetuoso e tenaz, com físico imponente e humor mordaz,
pouco cuidadoso com o financiamento das campanhas eleitorais, deu as costas em
novembro de 2005 ao Likud para criar o partido de centro Kadima, enquanto
planejava outras retiradas da Cisjordânia.
"O
Buldôzer"
Nascido
em uma família procedente de Belarus, Ariel Sharon mostrou durante a longa
carreira no exército, iniciada aos 17 anos e onde foi ferido em duas ocasiões,
um gosto pelos métodos expeditos.
À frente
da unidade 101 dos comandos e depois das unidades de paraquedistas, liderou
operações de punição, a mais violenta terminou em 1953 com a morte de quase 60
civis na localidade palestina de Kibia.
Em 1969,
Sharon debilitou por muito tempo a resistência palestina em Gaza com operações
dos comandos.
Durante a
guerra de outubro de 1973, voltou a demonstrar suas capacidades militares ao
atravessar o canal de Suez e cercar o exército egípcio com uma manobra ousada.
Em 28 de
setembro de 2000, sua visita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental,
terceiro local sagrado islã, provocou indignação. No dia seguinte explodiu a
segunda Intifada.
Mas
Sharon considerou a situação apenas uma pequena batalha de uma "guerra de
100 anos" contra o sionismo e Israel. Com a promessa de esmagar a revolta
palestina, foi eleito de maneira triunfal primeiro-ministro em 6 de fevereiro
de 2001 e reeleito em 28 de janeiro de 2003.
Ele
queria a separação dos palestinos, mas segundo as condições de Israel. Esta era
a missão histórica que pretendia realizar.
Mas,
pouco depois de seu derrame, o homem forte de Israel passou a cair no
esquecimento, preso a uma cama de hospital e velado pela família. Seu nome era
citado de maneira esporádica pela imprensa.