Ponto final - O exemplo da Noruega
13/01/14 10:45 | Gabriel de
Sales (gsales@brasileconomico.com.br)
O problema dos países europeus endividados é que
gastaram o dinheiro que não têm, enquanto nós na Noruega não gastamos o
dinheiro que temos.
A ironia de Jens Stoltenberg, ex-primeiro-ministro
norueguês, manifestada durante conferência na Universidade de Harvard, nos
Estados Unidos, em meados do ano passado, mais do que alfinetar as nações
afundadas na crise da dívida, mostra a seriedadade do país nórdico na gestão da
riqueza conseguida com a exploração petrolífera. A explicação para esse sucesso
é o fundo soberano, também conhecido como fundo para as futuras gerações, ou
simplesmente "Fundo de Riqueza da Noruega", cujos recursos situam-se
atualmente em torno de US$ 830 bilhões. Deverá ser o primeiro fundo de
investimento global a atingir a cifra de US$ 1 trilhão.
Embora seja, há muito tempo, um ocupante cativo dos
primeiros lugares nas estatísticas sobre indicadores sociais e econômicos
positivos, a Noruega viu as coisas ficarem ainda melhores com as grandes
descobertas de petróleo no Mar do Norte, na década de 70. "Estamos
condenados a ser ricos", brincou, na época, o então ministro de Energia
norueguês.
Nestas quatro décadas as coisas só têm melhorado,
com a descoberta de novas reservas, que engordam as receitas do país,
consolidando-o como um dos maiores exportadores de petróleo e gás.
Com dinheiro sobrando, houve um grande debate
nacional sobre o que fazer com essas essas reservas, sendo então criado, em
1990, o fundo soberano, um mecanismo para garantir a qualidade de vida das
futuras gerações no momento em que começarem a se esgotar as reservas de óleo e
gás.
Rigorosos nas aplicações, seus administradores não
hesitaram em excluir de sua carteira gigantes como Boeing, EADS, Walmart, Rio
Tinto, e até duas empresas israelenses. Estas foram excluídas por "motivos
éticos" já que atuavam em colônias de judeus instaladas em território
palestino. Esse rigor, pelo visto, em nada afeta a rentabilidade do fundo, que,
de acordo com dados divulgados na última quarta-feira, encerrou 2013 com a
invejável taxa de retorno de 13,4%.
A iniciativa norueguesa encontrou alguns
seguidores, entre eles o governo brasileiro que,entusiasmado com as promissoras
possibilidades do pré-sal, também programa seu próprio fundo soberano.
O problema, como lembrou Stoltenberg, são os riscos
da "maldição do petróleo", em que a grande riqueza produzida por um
produto fóssil, portanto finito, pode levar as gastos exagerados ou a
investimentos sem um bom retorno. "O fundo nos ajudou a evitar essa
maldição", pondera o ex-primeiro-ministro.
A vitória da oposição nas eleições de outubro, e a
ascensão da conservadora Erna Solberg ao cargo de primeira-ministra deverá ter
alguns reflexos na administração do fundo. Como informa a agência Bloomberg, o
novo governo está propondo maior diversificação das aplicações, acenando com
maiores investimentos em setores como infraestrutura. Outra proposta, que pode
ser benéfica para o Brasil, é dar mais atenção a projetos de energia limpa e às
economias emergentes.
W-15>Consciente dos riscos da
"maldição", Solberg alerta que "a parte mais importante é a
segurança nos investimentos", e garante: "devemos fazer isso de forma
conservadora e sem assumir muitos riscos".
Um exemplo que deveria ser seguido por quem tem petróleo, como é o caso brasileiro.
Um exemplo que deveria ser seguido por quem tem petróleo, como é o caso brasileiro.