quarta-feira, 23 de abril de 2014


Todo cuidado é pouco

Atingida por uma avalanche de notícias negativas, Dilma perdeu pontos em popularidade e também viu cair as intenções de voto na disputa sucessória

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

O feriado prolongado foi útil para os especialistas em pesquisa de opinião. Eles tiveram tempo de sobra para analisar os últimos números do Ibope, do Vox Populi e do Datafolha. E, com bases nesses dados, concluíram que a Dilma Rousseff enfrenta, sem sombra de dúvida, um momento bastante complicado. Atingida por uma avalanche de notícias negativas, a presidente perdeu pontos em popularidade e também viu cair as intenções de voto na disputa sucessória.

Concorde-se ou não, os experts veem nuvens cinzentas no horizonte e já não apostam na vitória de Dilma no primeiro turno. O ex-prefeito Cesar Maia, por exemplo, destaca que o eleitorado está partido. O Nordeste continua com Dilma, mas o Sudeste se distancia mais. A classe de baixa renda permanece fiel, enquanto cresce a insatisfação dos que ganham acima de 5 salários mínimos. E por aí vai.

A tempestade que se abateu sobre a presidente tem múltiplas origens. Vai da ameaça de racionamento de energia e da falta de água em São Paulo até os mal feitos do deputado petista André Vargas, ex-presidente da Câmara, que insiste em se agarrar ao mandato. Mas o que mais contribuiu para adernar o barco oficial foi o escândalo em torno da compra da refinaria americana de Pasadena pela Petrobras. Repercutiu mal o desembolso de US$ 1,2 bilhão pela unidade que os belgas da Astra haviam comprado por apenas US$ 42 milhões. O negócio foi realizado em 2006, quando Dilma era ministra-chefe da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da estatal. O presidente da empresa era José Sérgio Gabrielli, mas há todo um esforço da oposição para jogar o peso nas costas de Dilma. Se valem as pesquisas, a tática está dando certo, até porque, diante das notícias e manchetes, muita gente entende que o negócio foi realizado no governo atual. Para complicar, o sobrenome do doleiro envolvido com um ex-diretor da Petrobras é Yousseff e leva a confundir com o Rousseff da presidente.

Além dos fatores políticos, pesa também o mau momento da economia brasileira. Ontem mesmo, a pesquisa Focus, do Banco Central, apontou para uma taxa de inflação acima do limite da meta. Essa é a previsão para este ano das principais instituições financeiras. Mas as pessoas ouvidas pelo Ibope e pelo Datafolha também demonstram uma expectativa pessimista em relação à alta dos preços. Começam a temer a volta da inflação e se preocupam com a manutenção do nível de emprego. Ou seja, desconfiam do futuro da economia e desaprovam a forma de governar da presidente. A sorte de Dilma é que seus adversários não emocionam e estão empacados. Mas todo cuidado é pouco.

Algumas raposas em eleições afirmam que a presidente não pode esperar até o início da campanha na TV em agosto. Está crescendo o número de indecisos e a reação de eleitores desencantados com a política é imprevisível. Podem anular votos, podem engrossar a abstenção, mas também podem buscar alternativas. Na opinião dos especialistas, o desafio imediato de Dilma Rousseff é reagir logo para estancar a sangria de intenções de voto. Ela tem que apresentar algo forte e inesperado que altere a tendencia de baixa. Um ato de efeito. Do contrário, seus principais adversários podem surfar na onda de decepção. O que já estão tentando fazer. De qualquer forma, comenta-se nos institutos de pesquisa que “esta será a eleição mais difícil da história recente”.