segunda-feira, 28 de abril de 2014


Tudo em nome da amizade

O deputado André Vargas deu as explicações comuns a todos os políticos que são pegos com a mão na botija

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

O deputado federal André Vargas é ex-secretário nacional de Comunicação do PT e ex-vice-presidente da Câmara. Dentro em pouco, também se tornará ex-deputado. Motivos não faltam. Vargas encontrou no mandato popular a porta aberta para a conquista de vantagens para si e para seus amigos. Um dos mais próximos era o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e processado como chefe de quadrilha de lavagem de dinheiro. Vargas é acusado pela PF de tráfico de influência em benefício de Youssef. Não se sabe o que recebeu em troca, mas, numa mensagem, o doleiro diz que a intermediação junto ao Ministério da Saúde iria garantir a “independência financeira” de ambos. A “independência”, obviamente, se daria à custa do Tesouro Nacional.

Antes da denúncia sobre a defesa dos interesses do laboratório Labogen no contrato de produção de genérico do Viagra, soube-se, também pela PF, que Vargas fez viagem de férias a João Pessoa em jatinho fretado por Youssef, por R$ 100 mil. O deputado deu as explicações comuns a todos os políticos que são pegos com a mão na botija. Afirmou que era amigo de Youssef há muitos anos, mas não sabia de suas atividades comerciais. Contou que o aluguel do jato foi um pequeno favor e que tentou reembolsar a despesa, mas não conseguiu. Mais ou menos o que o ex-senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, disse sobre as despesas e viagens pagas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, “seu amigo de longa data”. Quanto à acusação de tráfico de influência, Vargas explicou que os diálogos estavam fora do contexto. Cobrou a presunção de inocência e se disse vítima de um linchamento midiático.

Tudo indica, porém, que quem andou fora do contexto nos seus dias de Brasília foi o deputado Vargas. Além de responder a processo disciplinar na Comissão de Ética que pode levar à cassação do mandato, ele não conseguir sequer convencer a cúpula do PT. O partido continua a considerar José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares injustiçados, mas concluiu que a situação de Vargas é indefensável. Os argumentos que apresentou são frágeis. Na visão de petistas experientes, se o jatinho pago por Youssef tivesse sido usado para um objetivo humanitário (por exemplo, o socorro de comunidades isoladas por algum cataclismo), a ajuda seria aceitável, apesar da origem. Mas o financiamento de viagem de turismo com a família é incompatível com o mandato. Não condiz com a linha de conduta que o PT espera de seus parlamentares.

Pediu-se que Vargas deixasse a vice-presidência da Câmara. Ele relutou, mas acabou cedendo. Após novas denúncias, a direção do PT entendeu que só havia uma saída para o deputado: a renúncia. Diante de sua resistência, foi marcada reunião da Executiva Nacional, em que seria aplicado o artigo 246 do estatuto do PT, que prevê a suspensão por 60 dias até julgamento pela Comissão de Ética. Estaria aberto, assim, o processo para exclusão dos quadros. Sem saída, Vargas pediu a desfiliação. A direção do PT deu o caso por encerrado e acha que estancou o desgaste da legenda. Mas Vargas continua agarrado ao mandato. Diz que vai se dedicar à defesa na Câmara. Suas chances, porém, são mínimas. Na verdade, teme ser preso assim que perder a imunidade parlamentar. É mais um que deixará a Câmara pela porta dos fundos. A Casa é de representantes do povo, e não de intermediários de doleiros e bicheiros.