quarta-feira, 30 de abril de 2014


Uma batalha e a guerra eleitoral

Será que Dilma terá forças para superar as atuais adversidades? Ela não é de entregar os pontos no primeiro embate

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Que Dilma Rousseff está em baixa nas pesquisas de opinião não é novidade para ninguém. Surpresa seria se ela estivesse resistindo à barragem de más notícias das últimas semanas. Na linguagem popular, a presidente está apanhando mais do que boi ladrão. Noite e dia surgem novas denúncias sobre a gestão da Petrobras. A estatal procura reagir com uma agenda positiva. Tenta contra-atacar com a divulgação de bons resultados na exploração do pré-sal e na produção de derivados de petróleo, mas a investida da mídia continua a fazer estragos na imagem do governo. Como ressaltou um diretor da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), ao divulgar ontem nova queda da popularidade de Dilma, “o escândalo de Pasadena atingiu em cheio a presidente”.

Há mais de um mês, a Petrobras não sai das manchetes de jornais do Rio e São Paulo. Um dos alvos é a compra da refinaria de Pasadena por US$ 1,2 bilhão. Mas, simultaneamente, divulgam-se os detalhes das investigações da Polícia Federal sobre o envolvimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa com o doleiro Alberto Youssef, ambos acusados de criar uma espécie de propinoduto nos contratos da estatal. Na opinião de especialistas em pesquisas, a cobertura da imprensa é tão intensa que leitores desavisados podem concluir que todos os negócios são de responsabilidade do governo Dilma. Tanto assim que uma secção da pesquisa encomendada pela CNT é dedicada à reação dos entrevistados às notícias envolvendo a Petrobras.

Mas o que concluir exatamente da pesquisa da CNT/MDA? Para a oposição, está claro que a candidatura da presidente perdeu sustentação. Dilma caiu para 36,5%, Aécio Neves subiu para 21,5% e Eduardo Campos pela primeira vez chegou aos dois dígitos, com 11,2%. Marcante, sem dúvida, foi a evolução do tucano Aécio, que cresceu quase cinco ponto percentuais entre fevereiro e abril. Talvez tenha sido reflexo do programa de TV do PSDB, no qual colou sua imagem à do avô Tancredo Neves, o primeiro civil a ser eleito presidente da República (pelo Congresso) após o ciclo de ditadores militares. O senador mineiro também se beneficia da tradicional queda de braço entre PT e PSDB. Mudam os nomes dos candidatos ao Planalto, mas não muda a disputa bipartidária iniciada em 1994.

Aécio, de fato, tem chão para crescer. O mesmo, porém, não se pode dizer do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Na pesquisa espontânea, ele aparece apenas com 3,6% das intenções de voto. Na induzida, só ganhou dois pontos percentuais, apesar da exposição que teve durante todo o mês de abril. Se Campos não decola agora quando se comporta como franco atirador, que dirá quando for atacado pelos adversários.

E a presidente Dilma? Será que terá forças para superar as atuais adversidades? Ela garante que sim e afirma que não teme o movimento Volta Lula. “Temos, eu e o Lula, uma relação de muita lealdade. Sou muito grata a ele. Existe uma coisa que é lealdade. Então, isso não me pega”, disse a jornalistas durante jantar no Palácio Alvorada. Conta a seu favor um aspecto importante da pesquisa. Apesar do tiroteio, ela continua a derrotar os dois principais opositores por larga margem, na hipótese de segundo turno. E ainda ganharia no primeiro turno. Por sua história de vida, Dilma Rousseff não é de entregar os pontos no primeiro embate. Está perdendo a batalha de Pasadena, mas pode ganhar a guerra das eleições.