quarta-feira, 28 de maio de 2014


28/05/2014 | 08:30 - Atualizado em: 27/05/2014 | 20:09

A Europa ameaçada


Os principais partidos políticos da Europa levaram um susto na noite de domingo passado, quando foram abertas as urnas da eleição para o Parlamento Europeu


Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Um verdadeiro terremoto sacudiu o Velho Continente, com a vitória de partidos ultranacionalistas, eurocéticos e xenófobos. Pelo balanço final, as forças de direita e de extrema direita venceram em 20 dos 28 países da União Europeia. Apesar da abstenção elevada (que é normal neste tipo de pleito), foi um desastre para os atuais governantes. Nas palavras da chanceler alemã Angela Merkel, o resultado “é surpreendente e inaceitável”. Já François Hollande, presidente da França, não escondeu a perplexidade: “A Europa se tornou ilegível, distante e incompreensível, mesmo para os Estados. Isso não pode mais durar”.

O  socialista Hollande tem motivos para ficar apreensivo. A maior surpresa sacudiu a França, o berço da democracia moderna, onde a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, conquistou um de cada quatro votos. A legenda criada por Jean-Marie Le Pen, que nunca foi ameaça política real, fez 24 dos 74 deputados, com 24,8% dos votos contra apenas 13,9% do Partido Socialista. Com base no expressivo desempenho, Marine, a filha de Jean-Marie, declarou que a Assembleia Nacional não representa a vontade dos cidadãos franceses e pediu a convocação de eleições gerais. Hollande descartou a proposta, mas garantiu que vai “tirar lições” da derrota.

Embora tenha vencido em seu país, Angela Merkel foi mais ágil em suas conclusões: “Temos de voltar a conquistar os eleitores com uma política de competitividade, crescimento e emprego”. Ela acertou na mosca. O que está por trás da insatisfação é a crise econômica dos últimos anos, com baixas taxas de crescimento e altos índices de desemprego. Esse é o caldo de cultura que alimenta a intolerância e a xenofobia na Europa.

Na Dinamarca, o Partido Popular, de bandeiras ultranacionalistas, fez 4 das 13 cadeiras. Na Grécia, os neonazistas do Aurora Dourada se firmaram como terceiro maior partido e conquistaram 3 de 18 cadeiras, com 9,3% dos votos. O discurso é o mesmo: contra a imigração e pelo fim da União Europeia.

Na Espanha, um partido nascido há apenas três meses, o Podemos, conseguiu cinco cadeiras no Parlamento Europeu, graças também ao voto de protesto. Não se sabe exatamente quais são as propostas da nova legenda, mas ao atacar “a casta política”, principalmente nas redes sociais, o Podemos abocanhou 8% dos votos. Diante do fiasco da esquerda, o secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) renunciou ao cargo.

Nem mesmo a sisuda Inglaterra escapou do vendaval. O Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), cuja principal bandeira é exatamente a saída da União Europeia, recebeu 29,4% dos votos e o primeiro-ministro David Cameron reconheceu a mensagem dos eleitores, que pela primeira vez desde 1910 não deram a vitória nem aos trabalhistas nem aos conservadores. O resultado só não foi pior porque, em Londres, o cosmopolitismo falou mais alto e o radicalismo acabou rejeitado.

Quando Marx e Engels afirmaram, em seu famoso Manifesto, que um fantasma rondava a Europa, referiam-se à tomada do poder pelos comunistas. Depois das eleições de domingo, a metáfora voltou a ser citada pelos analistas. Mas a ameaça agora é a extrema-direita. Pelo visto, este fantasma está vivíssimo.