segunda-feira, 12 de maio de 2014


Eleições e o efeito Copa


A derrota de 1950 foi uma tragédia nacional. Meses depois, o brigadeiro Eduardo Gomes, da situação, perdeu a eleição presidencial para Getúlio Vargas


Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Houve comemoração no Palácio do Planalto na sexta-feira diante dos resultados da pesquisa do Datafolha. A queda em parafuso das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff, que se desenhava desde fevereiro, foi finalmente interrompida. Após cair de 44% para 38%, a pré-candidata à reeleição apareceu com 37%, com perda de apenas um ponto percentual. O senador Aécio Neves firmou-se como principal opositor, ao subir de 16% para 20% na preferência dos eleitores. Mas o ex-governador Eduardo Campos continuou a patinar e não passou de 11%. O dado mais positivo para os candidatos da oposição é a possibilidade de um segundo turno. Mesmo assim, pelas simulações atuais, a presidente ganharia dos dois adversários: 47% a 36% contra Aécio e 49% a 32% no caso de Campos.

Esse quadro dificilmente mudará nas próximas semanas. Depois das denúncias envolvendo a Petrobras e dos programas na TV de Campos e Aécio e o da própria Dilma no 1º de Maio, não há fatos novos à vista, nada capaz de alterar de forma mais aguda o sentimento da opinião pública. Nos 30 dias que antecedem a Copa do Mundo, certamente haverá manifestações de rua, mas são eventos previsíveis que põem em xeque a classe política como um todo. É desgaste para todos, sem beneficiar este ou aquele candidato. Em compensação, Dilma Rousseff mantém uma enorme zona de conforto no Norte/Nordeste, graças ao programa Bolsa Família e outros programas sociais. Ela vê Aécio Neves se aproximar no Sudeste, mas se conserva à frente. Os responsáveis por sua candidatura acreditam que, a partir da campanha eleitoral, a diferença vai aumentar e talvez seja possível a vitória ainda no primeiro turno.

Há um fator, porém, imponderável: trata-se do impacto da Copa do Mundo nas intenções de voto. Há quem diga que, historicamente, o efeito é nulo. Por exemplo, o Brasil perdeu a Copa da França em 1998, mas o presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito com facilidade no primeiro turno. Em 2002, veio o pentacampeonato com a família Felipão e, no entanto, a oposição ganhou com Lula. Nessa mesma direção, embora a seleção tenha se saído mal em 2006 e 2010, Lula se reelegeu e conseguiu fazer de sua ministra da Casa Civil a primeira mulher presidente do Brasil. Portanto, seria incorreto falar de uma relação direta do futebol com as urnas. O eleitor não mistura as coisas e sabe separar as duas realidades. Mesmo decepcionado com derrotas prematuras na Copa, não daria resposta com o voto.

Será mesmo? O que dizer, então, do Maracanazo, em 16 de julho de 1950, quando o Brasil perdeu a final por 2 a 1 para o Uruguai? Foi uma tragédia nacional e meses depois, em 3 de outubro, o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), candidato da situação, foi derrotado pelo ex-ditador Getúlio Vargas (PTB). Como dizia a marchinha carnavalesca, o retrato do velho voltou para a parede outra vez. Que não haja dúvida: a Copa do Mundo realizada no Brasil terá um impacto maior do que se imagina. A derrota da seleção brasileira pode aumentar o mau humor de quem está indeciso — e não são poucos, como mostrou o Datafolha. Mas a conquista do hexa pode gerar uma onda de otimismo.

Além de ter inaugurado todos os estádios, Dilma Rousseff estará presente a jogos importantes durante o Mundial. Ficará exposta ao sol e à chuva. Se o Brasil for bem, vai colar a imagem ao sucesso de Neymar e Cia. Se a seleção fracassar, pode pagar o pato.