quarta-feira, 13 de novembro de 2013


Análise: Aproximação entre Turquia e Teerã muda jogo político regional

 

MÁRIO CHIMANOVITCH
ESPECIAL PARA A FOLHA

 

O impensável, no nebuloso mundo da espionagem, ocorreu semanas atrás e somente não obteve maiores repercussões porque as partes envolvidas, por dever de ofício, nutrem horror pela publicidade escancarada.

O serviço secreto da Turquia, após décadas de colaboração estreita com o Mossad, seu congênere de Israel, delatou às autoridades iranianas uma rede de espionagem israelense no país.

A atitude turca é mais um indício de grandes mudanças no país. O premiê Recep Edorgan, muçulmano devoto, abomina o modelo republicano secular instaurado no país e quer que a nação se volte para o islamismo.

Edorgan surpreendeu a Turquia ao decidir, em setembro último, abolir o veto ao uso do véu islâmico nas repartições públicas.

Ao mesmo tempo, proibiu o juramento de lealdade ao Estado que vigorava como prática diária nas escolas primárias e secundárias.

Essas mudanças incluem a criação de um "pacote de democratização" que objetiva atender às exigências europeias sobre os chamados direitos das minorias e as liberdades civis necessárias à candidatura do país para a União Europeia (UE).

Especialistas israelenses e regionais questionam as ações de Erdogan e as consideram como afirmação de suas verdadeiras tendências islâmicas.

Observadores estão de acordo que os passos simbólicos ensaiados pelo premiê turco indicam que ele está fazendo avançar a sua própria agenda.

Segundo o pesquisador turco Halil Karavelli, em artigo publicado recentemente no jornal "The New York Times", "Erdogan, ao invés de promover os direitos das minorias, como propala, está cada vez mais jogando com o fogo das paixões sectárias". Segundo o analista turco, o primeiro-ministro está transformando a Turquia num barril de pólvora, ao tentar escorar sua própria base política.

"Ele vem tentando intencionalmente ampliar as brechas que há longo tempo separam os turcos secularistas dos religiosos", escreveu.

MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio