segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ponto Final – Todos de olho na China
08/11/13 10:45 | Octávio Costa (ocosta@brasileconomico.com.br)
Ontem foi o 96º aniversário da Revolução Russa. Daqui a quatro anos, em 7 de novembro de 2017, será comemorado o centenário da tomada do poder pelos bolcheviques, comandados por Vladimir Ilich Lenin.
Há algumas décadas, a data histórica era celebrada com pompa e circunstância em várias capitais do Leste Europeu. Em Moscou, o PCUS dava demonstração de força para o mundo e promovia uma imponente parada militar na Praça Vermelha. Também havia festa em outros países, organizadas pelos partidos comunistas locais. Tudo isso ficou para trás com o fim da União Soviética, em 1992. Hoje, o foco do Ocidente mudou de direção. Está voltado para a China e seus governantes. E não por motivos bélicos ou geopolíticos, mas, sim, pelo peso cada vez maior da economia chinesa.
Da letra C dos Brics depende o bom desempenho dos demais integrantes da sigla criada pelo Goldman Sachs. A China transformou-se em parceiro estratégico dos países emergentes. E o Brasil não foge a essa regra. Que o diga a Vale, cujos resultados estão umbilicalmente atrelados à demanda de Pequim. Ao anunciar o surpreendente lucro líquido de R$ 7,9 bilhões no terceiro trimestre deste ano, a mineradora reconheceu que o resultado 139% maior do que o do ano passado só foi possível graças às exportações para a China. As vendas para o gigante da Ásia representaram 40,6% dos negócios da Vale. E a empresa vê perspectivas de negócios ainda melhores, pois os estoques do país oriental estão muito reduzidos e pedem reposição.
Também no setor de energia, os chineses começam a galgar posições. Com 45 mil barris diários, Sinochem e Sinopec já são o quarto maior produtor de petróleo no Brasil. Quando se iniciar a exploração do pré-sal de Libra, a produção aumentará em escala geométrica, graças a fatia de 10% da CNOOC e a CNPC, cada uma. Não por acaso, o vice-presidente da República, Michel Temer, encontra-se em Pequim, cumprindo uma agenda de negócios. Em entrevista coletiva, ele confirmou que está praticamente acertada a abertura de uma agência do Banco do Brasil em Xangai. E explicou que só depende de ajustes a troca do dólar pelas divisas nacionais, o real e o renminbi (moeda do povo), no comércio bilateral. Falta vencer a resistência da equipe de Guido Mantega, porque o renminbi (cujo padrão unitário é o yuan) não é conversível.
A visita de Michel Temer a Pequim coincide com um momento chave: começa neste sábado a Sessão Plenária de três dias do Comitê Central do Partido Comunista da China, que vai discutir uma série de medidas de estímulo ao crescimento. A reunião dos 376 membros do CC só acontece a cada cinco anos e será a primeira sob comando do presidente Xi Jinping. Deixou marcas, por exemplo, a reunião de 1993, ao aprovar incentivos à economia socialista de mercado. Agora, os conselheiros de Xi Jinping defendem uma presença maior da iniciativa privada, com participação de empresas nos setores de telecomunicação, energia e bancos. Será proposto também um novo sistema de previdência social.
Não é certo que o pacote seja aprovado. Mas mesmo os dirigentes do PCC refratários às soluções de mercado concordam que a China tem de dar uma guinada para retomar as altas taxas de crescimento e reduzir as desigualdades sociais. Se o Comitê Central votar a favor das reformas, pode promover uma nova revolução. Digna de grande festa.