sábado, 10 de outubro de 2015

Banco Mundial: recessão no Brasil provoca estagnação da economia na América Latina
Brasil foi classificado no grupo de ‘baixo crescimento’ da América do Sul. Em 2015, o Banco Mundial prevê uma queda de 2,6% no PIB real do país. Retração começa a afetar mercado de trabalho e renda.

A construção civil é um dos setores mais afetados pela desaceleração no Brasil. Foto: EBC
Em relatório semestral publicado nesta segunda-feira (5), o Banco Mundial chamou atenção para a desaceleração econômica na América Latina e no Caribe. Segundo o documento, o Brasil será um dos principais responsáveis pela estagnação do PIB da região prevista para 2015. A situação é mais grave na América do Sul, onde desde 2011 os índices de desenvolvimento econômico têm apresentado quedas significativas.
Após uma década de intenso crescimento (de 2002 a 2011), impulsionada pela elevação dos preços das commodities, as economias dos países sul-americanos começaram a sofrer os efeitos da desvalorização das matérias-primas no mercado internacional e da desaceleração econômica da China. A retração econômica, no entanto, afeta as nações da região de forma distinta.
Colômbia, Peru e Uruguai terão uma taxa de crescimento médio de 3% em 2015. O Brasil e o Equador apresentarão índices negativos, de acordo com o relatório. O PIB real brasileiro, por exemplo, terá uma queda estimada em 2,6% nesse ano. A recessão deve continuar em 2016, mas em proporções menores. Junto com a Argentina, as duas nações foram classificadas no grupo de Baixo Crescimento da América do Sul.
No Caribe e na América Central, as projeções são positivas. O Banco Mundial destaca que essa região cresceu menos durante o aumento dos preços das commodities. Por sua maior proximidade econômica com os Estados Unidos, os países também teriam passado por retrações mais duras após a crise global de 2008 e 2009. Agora, suas economias estão sendo impulsionadas pela recuperação norte-americana, enquanto as nações sul-americanas continuam mais suscetíveis às oscilações do mercado chinês.
Mesmo com perspectivas de crescimento para alguns países, o desempenho negativo do Brasil, que é a maior economia da América Latina, está provocando a estagnação econômica da região, de acordo com o relatório.
Mercado de trabalho e renda familiar na América do Sul
Segundo o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Augusto de la Torre, a desaceleração que se anunciava desde 2011 começa a ter consequências concretas para o mercado de trabalho e para a renda familiar nos países da América do Sul. “Mais recentemente, estamos observando uma deterioração na qualidade do emprego, na medida em que os trabalhadores assalariados se tornam autônomos e a mão de obra se transfere das grandes empresas para outras menores”, afirmou.
O relatório aponta que, no grupo de Baixo Crescimento, a capacidade de criar um número de vagas maior que o crescimento do contingente de trabalhadores chegou a zero. Nesses países, com a exceção do Equador, verificou-se um aumento expressivo de postos em grandes corporações e uma queda na quantidade de trabalhadores autônomos e/ou de pequenas empresas, entre 2002 e 2011.
Ao mesmo tempo, houve uma redução da desigualdade salarial entre trabalhadores qualificados e não qualificados durante o período de boom econômico. No Brasil, além da formação profissional, o relatório aponta que outros fatores que condicionavam o valor dos pagamentos, como diferenças de gênero e raça, teriam avançado.
Agora, o fenômeno inverso tem provocado a precarização do trabalho. As políticas de valorização do salário, que contribuíram anteriormente para reduzir a disparidade de renda entre segmentos sociais, podem acabar produzindo o efeito contrário, acelerando demissões.
O Brasil e a Argentina apresentam um quadro atípico entre seus parceiros regionais, pois, nos dois países, as taxas de desemprego entre profissionais qualificados e não qualificados mantiveram-se similares no período de 2011 a 2014. O relatório sugere a hipótese de que a situação incomum pode ser decorrente de benefícios oferecidos aos desempregados nessas nações.