quarta-feira, 10 de outubro de 2012


A lição por trás da venda de aviões brasileiros ao exterior
10/10/12 07:44 | Ricardo Galuppo - Publisher do Brasil Econômico
O Brasil Econômico dá conta, em sua edição de ontem, que este ano os aviões superaram o minério de ferro na pauta de exportações brasileiras. Por mais que a ultrapassagem se deva, em boa parte, à redução dos negócios e à queda nos preços do minério, é conveniente observar que o aumento na venda dos jatos brasileiros é portentoso.
Entre janeiro e setembro de 2010, o Brasil exportou US$ 2,4 bilhões em aviões. Este ano, em nove meses, o valor das vendas chegou a US$ 3,2 bilhões - US$ 800 milhões a mais. É um número importante. Afinal, na pauta brasileira de exportações não existe outra mercadoria com tanta tecnologia embarcada e tanto valor agregado.
Quando se vende um avião, não se comercializa apenas as peças de que ele é feito e o trabalho para montá-las. Vende-se, também, o engenho e a arte dos profissionais que desenvolveram um projeto que se mostrou a melhor alternativa para dezenas de empresas aéreas de todo o mundo.
Sem qualquer preconceito contra a exportação do minério de ferro e das outras commodities que, em 2009, atenuaram os efeitos da crise internacional sobre o Brasil, é obrigatório acatar o que está dito em qualquer manual de comércio exterior: sob o ponto de vista do exportador, quanto mais valor estiver agregado ao artigo vendido, melhor.
Até aí, nada de novo. A questão ganha relevância quando se observa o destino das vendas dos aviões brasileiros. Tomando por base os números do ano passado, os maiores compradores foram os Estados Unidos (com US$ 650 milhões), China (US$ 619 milhões), Alemanha (US$ 240 milhões), Reino Unido (US$ 164 milhões) e Itália (US$ 142 milhões). Ou seja: as grandes potências mundiais.

Mesmo nos períodos de crise, elas dispõem de recursos para adquirir esse tipo de mercadoria. Nos números de 2012, também ganham importância o México (que já comprou mais de US$ 270 milhões em jatos da Embraer) e a Índia, um dos Brics (que já comprou US$ 66 milhões entre janeiro e setembro).

Em outras palavras, na lista dos grandes compradores de aviões não se encontra nenhum dos países que têm recebido tratamento especial da diplomacia comercial brasileira.
O comentário óbvio em torno dessa afirmação é o de que compradores de aviões são, de um modo geral, empresas de países ricos e o Brasil tem se dedicado a abrir mercado nos países mais pobres. Pois é justamente aí que está o xis da questão.
O Brasil precisa entender que sua diplomacia comercial pode, sim, contribuir para a redução da miséria no mundo. Mas não deve ter isso como foco. É preciso dedicar esforço e atenção aos países que injetam dinheiro de qualidade em nosso mercado.
O que significa, em outras palavras, deixar de tratar como inimigos compradores dos produtos mais sofisticados que nossa economia é capaz de produzir.
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Ricardo Galuppo é publisher do Brasil Econômico