quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Segurança, segurança

31/10/12 07:19 | Miguel Setas - Vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil
No momento em que estão sendo escritas estas linhas, está-se decidindo, através de voto democrático, o destino político das prefeituras brasileiras. Na altura em que este texto for lido, já estarão escolhidos os prefeitos (novos ou reeleitos) para os mais de 5.500 municípios brasileiros.
Aqui em São Paulo, para além de todas as necessidades de infraestrutura, mobilidade, educação e saúde desta megacidade, Fernando Haddad enfrentará um enorme desafio de segurança pública. Setembro de 2012 registrou um aumento de 96% nos homicídios dolosos face ao período homólogo de 2011. E esta tendência vem se acentuando nos últimos meses.

Gilberto Kassab deixa como principal legado uma "cidade limpa". Espera-se do próximo prefeito de São Paulo uma "cidade segura". Um estudo do observatório Veolia Environment (Villes à vivre 2010), revela que o principal motivo de preocupação para os paulistanos é a insegurança pública, seguida da poluição e dos riscos para a saúde.

Mas o flagelo da insegurança não assola apenas São Paulo, ou o Brasil, marca a vida da América Latina como um todo. O think tank mexicano "Conselho de Cidadãos para Segurança Pública e Justiça Criminal" revelou esta semana que 40 das 50 cidades mais violentas do mundo estão situadas na América Latina.

Pior ainda, a primeira cidade fora da América Latina só aparece na vigésima primeira posição (Nova Orleans, EUA). O Brasil conta com duas cidades no top 10 das taxas mais altas de homicídios no mundo: Maceió e Belém.

Este diagnóstico é particularmente agudo para a América Latina, porque esta é a região do globo como maior nível de urbanização: mais de 80% dos habitantes estão concentrados em cidades, enquanto a média das regiões em desenvolvimento não ultrapassa os 50%.

Curiosamente, São Paulo aparece pela primeira vez no recém-divulgado ranking de cidades mundiais da agência Habitat, da Organização das Nações Unidas, ordenado pelo chamado "Índice de Prosperidade".

São Paulo aparece na 26ª posição, atrás de Moscou e à frente de Almaty (Cazaquistão), com uma pontuação de 0,757 (entre 0 e 1). A primeira classificada é Viena (Áustria) com 0,925.

Este índice de prosperidade avalia cinco dimensões das principais cidades mundiais: produtividade, qualidade de vida (que inclui a segurança pública), infraestrutura, ambiente e igualdade social. São Paulo pontua a par da Cidade do México na produtividade (0,742), em linha com Ancara (Turquia) na qualidade de vida (0,803), próxima de Pequim na infraestrutura (0,918), parecida com Paris no índice ambiental (0,894) e com Nova York na desigualdade social (0,507). Aliás, é neste último quesito que São Paulo pior performa. E é também esta desigualdade, em grande medida, que justifica os elevados níveis de criminalidade registrados atualmente.

A segurança pessoal afeta diretamente a produtividade, a mobilidade e as interações sociais. A segurança pode não trazer diretamente prosperidade para a cidade, mas a sua ausência é grave Em suma, recomendaria ao próximo prefeito de São Paulo o mesmo grito de guerra que ensaio regularmente com os eletricistas com quem trabalho: segurança, segurança, segurança!
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Miguel Setas é vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil