terça-feira, 1 de julho de 2014

Empresa traz tecnologia da ficção para a vida real
Multinacional norte-americana Agilent equipa unidade móvel do Exército montada para prevenir ataques químicos durante a Copa
Rodrigo Carro rodrigo.carro@brasileconomico.com.br
Quem já acompanhou as aventuras dos especialistas forenses Gil Grissom e Sara Slide no seriado americano “CSI: Investigação Criminal” provavelmente conhece, mesmo sem saber, a multinacional americana Agilent. Com frequência, equipamentos fabricados pela companhia fornecem pistas decisivas para a solução dos crimes fictícios investigados pelo Departamento de Polícia de Las Vegas. Por detrás de nomes complicados, como o do espectrofotômetro infravermelho, está uma empresa presente em mais de cem países, com um total de 20,6 mil funcionários, e que só no ano fiscal de 2013 faturou US$ 6,8 bilhões.
No Brasil, a tecnologia da Agilent já era utilizada pela Polícia Federal e pelo Instituto de Criminalística de São Paulo, mas — com a Copa do Mundo — chegou ao entorno do Maracanã. A partir de equipamentos adquiridos na segunda metade do ano passado, o Exército Brasileiro montou um laboratório móvel de testes capaz de identificar e medir substâncias tóxicas presentes no ar, facilitando a reação a um possível ataque com armas químicas, por exemplo. As máquinas tornam possível ainda reconhecer com exatidão materiais tão distintos como cocaína e antrax, entre outros. O laboratório móvel — um furgão do Exército onde estão instalados os equipamentos — fica estacionado nos arredores do Maracanã em dias de jogos.
“Nos Estados Unidos, as polícias de Nova York e do Alabama contam com esse tipo de unidade. Aqui, é o primeiro laboratório móvel com equipamentos nossos”, diz o químico André Santos, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Agilent no país.
Embora atue no Brasil desde 1999, a Agilent ainda é bem menos conhecida no país do que a companhia da qual se originou: a HP. Quando foi fundada, em 1939, a Hewlett-Packard — hoje fabricante de computadores — atuava principalmente na área de equipamentos de medição eletrônica. Ao longo das décadas, essa área cresceu, mesmo com a diversificação dos negócios da companhia. Em 1999, os executivos da HP decidiram focar no segmento de computadores e fizeram um cisão corporativa, criando uma empresa separada — a Agilent — dedicada às áreas de medição analítica, análise química, biociências, diagnósticos, eletrônica e comunicações. “Na época, o faturamento total da HP era de US$ 48 bilhões, sendo que US$ 40 bilhões vinham do negócio de computadores e US$ 8 bilhões de medições químicas e eletrônicas”, conta Santos.
No país, a empresa tem duas divisões principais: a de medições eletrônicas e a de biociências (englobando ciência forense, análise química e segurança alimentar, entre outras). Na parte de medições químicas, a tecnologia é usada para identificar a presença de contaminantes na água e em alimentos. São equipamentos que permitem medir, por exemplo, a presença, no suco de laranja industrializado, de resíduos dos pesticidas usados na citricultura.
Apoiadora da “CSI: The Experience”, exposição interativa de ciências baseada na série transmitida pela CBS, a Agilent fabrica equipamentos capazes de identificar o uso contínuo de drogas, por meio de análise de fios de cabelo. “Os testes de urina e sangue conseguem detectar apenas se a pessoa consumiu drogas nos últimos dias, num prazo de no máximo uma semana”, explica Santos. O processo é possível porque substâncias secundárias oriundas da metabolização da droga pelo organismo vão se acumulando no cabelo ao longo dos anos.
A análise química em nível molecular é útil também para identificar drogas que as autoridades ainda desconhecem. “As drogas sintéticas são, muitas vezes, geradas a partir de alterações no nível molecular de substâncias já conhecidas, como o THC (tetrahidrocanabinol, o princípio ativo da maconha)”, diz o gerente de Desenvolvimento de Negócios. “À medida que novas drogas são identificadas, as autoridades ampliam a lista das substâncias proibidas”. Foi justamente numa cena de apreensão de drogas, em “CSI: Investigação Criminal”, que o executivo reconheceu um dos aparelhos da Agilent. “Vejo CSI muito raramente”, diverte-se Santos. “Os aparelhos não funcionam de verdade mas são idênticos aos reais”, conclui.