sexta-feira, 22 de agosto de 2014


De volta ao futuro

Não são cinco, são 14. O renomado economista indiano Deepak Nayyar, 67 anos, professor emérito da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Delhi, diz que os emergentes vitoriosos do século 21 não se limitam aos cinco famosos do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)

Florência Costaflorencia.costa@brasileconomico.com.br

Além desses, Nayyar — que lecionou nas Universidades de Oxford e de Sussex, na Inglaterra, e na New School for Social Research, em Nova York — cita mais nove países emergentes com chances de vencer a chamada corrida pelo crescimento. Ele faz uma inusitada análise da história econômica dos países em desenvolvimento, desde o segundo milênio até hoje, em seu livro “A Corrida pelo Crescimento: países em desenvolvimento na economia mundial” (Editora Contraponto e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento), que acaba de ser lançado no Brasil.

Deepak Nayyar provavelmente é um dos primeiros a navegar pela história econômica dos países em desenvolvimento em um período tão longo. Ele lembra que boa parte da história foi escrita de uma perspectiva europeia. Seu olhar, é claro, é de quem pertence ao mundo emergente. O destaque nessa viagem feita por Nayyar fica para a segunda metade do século 20 e a primeira década do século 21, quando os países em desenvolvimento passaram a atrair os holofotes na sua direção. Alguns deles, como China e Índia, ressuscitaram das cinzas, após um passado glorioso. A constatação central é de que o equilíbrio do poder econômico global está mudando novamente. Dessa vez, na direção de um mundo mais multipolar.

Os “Próximos 14” — como chama Nayyar — estão em três continentes. Na Ásia, além de China e Índia, há Turquia, Indonésia, Malásia, Coreia do Sul, Tailândia e Taiwan. Na África, além da África do Sul, o Egito (mas hoje esse país carrega um pesado ponto de interrogação nos ombros). Na América Latina, além do Brasil, o México, o Chile e a Argentina (que, no entanto, encara sérios problemas econômicos).

 

Em seu livro, o economista contrasta as diferenças entre países industrializados e em desenvolvimento no século 19 e início do século 20. Nayyar apoia seus argumentos pesquisando dados como Produto Interno Bruto (PIB), comércio, produção industrial, população, desigualdade e planos de combate à pobreza. Alguns países hoje descritos como em desenvolvimento tinham uma importância esmagadora até o final do século 18. No caso das civilizações milenares, o auge foi entre os anos 1000 e 1500.

A Ásia era o centro da economia global naquela época: China e Índia, sozinhas, concentravam metade dos habitantes do mundo. Esse cenário começou a mudar na primeira fase do colonização, até os anos 1800, com a descoberta dos novos mundos. E aí houve a revolução industrial. Mas mesmo em 1820 — ou seja, menos do que 200 anos atrás — a Índia e a China ainda representavam 50% da população e da renda global.

Após a metade do século 19 até meados do século 20 — em um curto espaço de tempo de apenas 130 anos — a transformação na economia mundial foi profunda. A quota dos países em desenvolvimento (chamados de “O Resto”) no PIB mundial caiu de 63,1% em 1820 para 27,1% em 1950. Esse declínio dramático ocorreu em grande parte devido à queda do PIB na Índia e na China. Nos anos 50, a Ásia representava apenas um décimo da economia europeia. No mesmo período, o “Ocidente” aumentou sua porção do PIB de 36,9% em 1820, para 72,9%, em 1950.

Os emergentes são muito diferentes uns dos outros e essa é uma característica sempre ressaltada nas análises sobre o Brics. Mas um dos fatores que eles têm em comum é o de que começaram a industrialização tardiamente, depois dos anos 50. O crescimento econômico dos emergentes tornou-se mais veloz a partir dos anos 80. Nayyar ressalta que esse processo de industrialização tem sido, no entanto, vitorioso.

Observando a quota da produção mundial, do comércio, da produção global de manufaturas e da população, os países em desenvolvimento voltaram a um ponto favorável a partir de 2010, equivalentes ao momento que viviam em 1820. Nayyar explica que o avanço dos emergentes, em décadas recentes, tem mais a ver com os passos que a Ásia deu. Nesse caso, entre os países em desenvolvimento, destaca-se especialmente a China, segunda maior economia do mundo, e a Índia, a terceira economia da Ásia. 

Na sua análise sobre o futuro da economia mundial, ele considera essencial focar em uma perspectiva de longo prazo, mais do que pensar em quatro meses ou em um ano: o horizonte de tempo deveria ser 2030 e não 2015.

Após décadas de políticas públicas voltadas para o crescimento, faria sentido que o mundo fosse mais igualitário, mas há imensas diferenças entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. O livro de Nayyar trata também das razões disso.

Mas os emergentes serão capazes de reproduzir o seu passado? Depende. Nayyar afirma que eles sustentarão o seu crescimento econômico apenas se houver um amplo processo inclusivo na divisão da prosperidade.