sexta-feira, 8 de agosto de 2014


Que economia é essa?


Além da visão cada vez mais crítica de economistas de diferentes matizes, o governo não consegue convencer com sua pregação otimista


Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi enfático ao afastar essas três sombras que frequentam as análises econômicas recentes”. É isso mesmo. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Tombini rebateu os críticos do governo e afirmou que a economia brasileira vai bem, obrigado. “Que crise é essa que nós estamos no menor nível de desemprego de todos os tempos. Que crise é essa que a inflação está sob controle?”, desafiou. Aproveitou a ida ao Congresso para descartar também a preocupação do FMI com nossas contas externas. Equiparou a situação do Brasil às do Canadá e do Reino Unido e garantiu que “estamos melhores que a França e uma série de outros países”.

Ao tempo de Santo Agostinho, usava-se uma expressão para se referir à visão da Igreja Católica sobre questões polêmicas: “Roma Locuta, Causa Finita”. Ou seja, Roma falou, a causa estava encerrada. Obviamente, tanto Alexandre Tombini quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, gostariam que a opinião do governo prevalecesse nas discussões sobre os rumos da economia brasileira. Deveria caber a eles a última palavra. Até que funcionou assim enquanto a economia respondeu aos estímulos ao consumo. O BC e a Fazenda foram alvo de reverências aqui e no exterior. Mantega, que enfrentou com sucesso os piores momentos da crise internacional, passou a ter destaque nos foros multilaterais. E o Brasil frequentou com assiduidade as capas de jornais e revistas na Europa e nos Estados Unidos.

Mas os dias de euforia ficaram para trás. Hoje, a palavra da equipe econômica é questionada a toda hora. Além da visão cada vez mais crítica de economistas de diferentes matizes, o governo não consegue convencer com sua pregação otimista. Por mais que Tombini e Mantega se mostrem tranquilos, continua muito baixo o índice de confiança de empresários e consumidores. Os fatos têm mais força do que as palavras de Brasília. No dia seguinte à fala do presidente do BC no Senado, vieram à luz novos números decepcionantes sobre o crescimento do país. Segundo a Anfavea, a produção de carros e veículos leves caiu 20,5% em julho, comparada ao mesmo mês de 2013. Foi o pior resultado da indústria automobilística desde 2006. “Houve uma quebra muito grande, e não esperada, na confiança do consumidor brasileiros no primeiro semestre”, explicou o presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Júnior.

As agruras do setor automotivo começam a se refletir no nível de emprego, com férias coletivas e lay-offs. Em julho, houve redução de 4,2% no estoque de mão de obra, em prejuízo de 6,6 mil trabalhadores. A retração da indústria nacional não está restrita ao universo das montadoras. Segundo dados do IBGE, a queda de 1,4% na produção industrial entre maio e junho foi provocada por recuo da atividade em 11 das 14 regiões pesquisadas. Só houve avanço no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Goiás. Em evento na Fundação Getúlio Vargas, o próprio presidente do BNDES, Luciano Coutinho, admitiu que as empresas estão adiando investimentos. “Isso já é perceptível na redução no número de consultas ao banco. Este é um período de incerteza”.

 Em que acreditar? No otimismo do Banco Central ou no realismo do BNDES?