sexta-feira, 15 de agosto de 2014


Incerteza também na economia

Será divulgado hoje o resultado de junho do IBC-Br, a prévia do PIB calculada pelo Banco Central

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

 

 

As estimativas do mercado financeiro, até ontem, não eram boas. O Departamento Econômico do Bradesco, por exemplo, previa, na margem, uma queda de 1,4%, fortemente influenciada pelos feriados durante a Copa do Mundo. Indicador nessa direção foi o comportamento das vendas no varejo naquele mesmo mês, anunciado ontem pelo IBGE. Registrou-se o terceiro resultado mensal negativo e o pior desde maio de 2012, com queda generalizada das atividades. As vendas caíram 0,7% em junho, em comparação a maio. O pior desempenho foi do grupo veículos e motos, com queda de 12,9%. Só salvou-se o setor de supermercados e produtos alimentícios. Para agravar o quadro, o IBGE revisou, para baixo, o levantamento referente a maio: a alta foi de 0,3%, e não de 0,5%.

A economia, portanto, fechou o primeiro semestre mal e, apesar de alguns sinais de avanço em julho — em grande parte, pelos 31 dias completos —, não deve se recuperar até o fim do ano. E este foi exatamente um dos alvos das críticas à política econômica feitas pelo ex-governador Eduardo Campos em sua última entrevista, ao “Jornal Nacional”, na noite de terça-feira. Além de alertar que o governo Dilma Rousseff “está guardando na gaveta” reajustes dos preços de energia e combustíveis, ele voltou a afirmar que o Brasil, este ano, foi goleado de 7 a 1 na economia, com inflação anual de cerca de 7% e crescimento abaixo de 1%. Na Globonews, sua análise foi ainda mais contundente: “Esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu. Nós vamos estar pior na economia, pior na questão da violência, pior na logística, pior na relação externa com o resto do mundo”.

Seria exagero do candidato do PSB? Pura retórica de quem procurava ampliar seu espaço na corrida sucessória? Tudo indica que não. Eduardo Campos, na verdade, estava reverberando um sentimento de importantes segmentos do setor produtivo. É crescente a incerteza. Basta ver o Indicador de Clima Econômico (ICE), que mede a opinião de 140 especialistas em conjuntura ouvidos pelo instituto alemão Ifo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). Entre abril e julho, a avaliação sobre a expectativa para os próximos seis meses recuou 22%, de 71 pontos para 55 pontos. Trata-se do pior resultado desde de 1991 e põe o Brasil atrás do Chile, do Equador e até mesmo da Argentina, esta última com 57 pontos. Segundo Lia Vals, da FGV, pesam nas projeções negativas a taxa de inflação e as previsões de um PIB de apenas 0,86%, de acordo com a mais recente pesquisa Focus.

O quadro, portanto, não é animador. Mas não chega a justificar declarações extremadas como a do presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, na terça-feira, em São Paulo. Depois de explicar que medidas paliativas não resolvem os problemas estruturais, o dono da CSN afirmou que, na percepção dos empresários, ainda há uma margem para a situação piorar. E concluiu: “Só louco investe no Brasil”. Com a morte de Eduardo Campos, a declaração de Steinbruch desapareceu do noticiário. Mas lembrou a de outro presidente da Fiesp, Mario Amato, diante da possibilidade de Lula ser eleito em 2002: “Se Lula ganhar, 800 mil empresários vão deixar o país”.

Da mesma forma que não houve êxodo, a GM, ontem, anunciou investimentos de R$ 6,5 bilhões no Brasil. E não tem nada de louca.