terça-feira, 19 de agosto de 2014


Marina e o desejo de mudança


A primeira pesquisa com Marina Silva no lugar de Eduardo Campos confirmou sondagens feitas pelos partidos políticos desde a morte do neto de Miguel Arraes


Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

 

 

Segundo o Datafolha, a ex-ministra aparece com 21% das intenções de voto, ao lado de Aécio Neves (20%), mas atrás de Dilma Rousseff (36%). Porém, na simulação de segundo turno, ela surge à frente da presidente, com 47% contra 43%. Se o número surpreende, haverá novidade ainda maior nos próximos dias. O Datafolha fez entrevistas na quinta e na sexta-feira, antes, portanto, do velório e do cortejo fúnebre pelas ruas do Recife. Àquela altura, o PSB ainda resistia à promoção da vice para cabeça de chapa. Ontem, informações preliminares de instituto de pesquisa que estava em campo mostravam vantagem muito maior de Marina. Ela já teria de sete a oito pontos sobre Aécio e igual distância para Dilma no segundo turno.

Os novos dados sobre a reviravolta na corrida sucessória vão ter forte impacto. Mas o PT e o PSDB continuam a fazer o possível para demonstrar tranquilidade, ao mesmo tempo em que tentam desqualificar o avanço da candidata apoiada pela família do ex-governador de Pernambuco. Petistas e tucanos afirmam que o fenômeno é passageiro e se deve em grande parte à comoção com a tragédia aérea de Santos.

Assim que a poeira baixar e o clima de emoção se desfizer, a candidatura de Marina perderia fôlego e se estabilizaria em torno do patamar de 2010, quando ela, no Partido Verde, chegou a 19,3% dos votos, perdendo para Dilma Rousseff e José Serra. Dizem também que a ex-ministra do Meio Ambiente não tem a mesma aura de quatro anos atrás. Sua imagem, explicam os adversários, sofreu desgaste em polêmicas que envolveram o aborto e o homossexualismo. Apesar do reconhecido carisma, haveria flancos vulneráveis em seu perfil.

Passado o calor da hora, vem por aí um enorme esforço para desconstruir Marina Silva. Um dos alvos será o seu desempenho quando comandou o Ministério do Meio Ambiente, durante o governo Lula. Comenta-se, nos bastidores de campanha, que Marina não se saiu bem na atividade executiva e nem de longe sua experiência administrativa pode ser comparada à de Aécio ou à de Dilma. Há quem lembre que, em seus tempos de poder, o IBAMA levantou graves obstáculos ao licenciamento ambiental, a ponto de provocar atrasos em grandes obras de interesse público. Serão apontadas também suas dificuldades de relacionamento com o agronegócio, além das resistência de grupos dentro do próprio PSB.

A munição está sendo acumulada para ser usada nos debates e nos programas de TV. Resta saber se conseguirá estancar a atropelada da candidata do PSB na reta final. Um respeitado especialista em pesquisa de opinião advertia ontem que é um equívoco atribuir somente à comoção as intenções de voto em Marina. Ele afirma que a ex-ministra de Lula tem tudo para encarnar o desejo de mudança que tomou conta das ruas do país nas manifestações de junho do ano passado.

Eleitores que, em protesto, pretendiam votar em branco ou anular o voto podem ver na ambientalista a alternativa aos padrões convencionais. Marina Silva representaria o voto contra a política tradicional. Em 2010, com apenas um minuto na propaganda eleitoral, ela conquistou 20 milhões de votos. Agora, terá 2 minutos e 3 segundos e representa séria ameaça ao sonho de reeleição de Dilma Rousseff.