quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CAUSAS DA CRISE NO SUDÃO DO SUL


Causas da crise no Sudão do Sul

Nairobi, Quénia (PANA) - A clivagem que se aprofunda entre o Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o seu antigo Vice-Presidente, Riek Machar, na origem da crise militar e política que abala atualmente o mais jovem Estado do planeta, é fruto de profundas divisões em redor da gestão das relações entre o Sudão do Norte e o Sudão do Sul.

O ex-Vice-Presidente Macher, que rompeu com a antiga rebelião dirigida pelo Exército/Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLA/A), seria favorável à construção dum Estado sul-sudanês mais próximo do Governo de Cartum, de que precisa o sul para exportar o seu petróleo.

Mas o Presidente Kiir e a maioria dos seus principais aliados políticos no seio do SPLM preferem estabelecer relações tímidas com Cartum e acusam Machar de trabalhar para os seus próprios interesses em detrimento do povo do Sudão do Sul.

O antigo Presidente do SPLA, John Garang, falecido em 2005 num acidente de avião pouco depois de o Sudão do Sul ter obtido um estatuto meio autónomo em virtude do acordo de paz assinado em 2005 com o Governo de Cartum, acreditava num Sudão unido e se opunha a qualquer ideia duma divisão, apesar da oposição dos altos quadros do SPLA.

Enquanto Garang lutava contra o que ele e os seus aliados consideravam como uma "islamização" do Estado, onde a linha de demarcação era fusca  entre a religião e o Estado, os altos quadros do SPLA lutavam pelo advento dum Estado independente.

Machar, um engenheiro formado na Grã Bretenha, juntou-se ao combate contra Cartum em 1983, mas retirou-se em 1991 para formar uma fação do SPLA, o SPLM-Nasir.

A facção ataca rapidamente às tropas do SPLA e infligindo-lhe pesadas baixas e, segundo certas vozes. Segundo quadros do SPLA criticam sempre Machar por causa destes atos do passado.

O Presidente Kiir demitiu este último do partido no poder procedendo consequentemente à dissolução do Governo, pondo assim termo às funções de Machar e do secretário-geral do partido, Pagan Amum, negociador principal durante discussões com o Sudão.

Machar exprimiu antes a sua vontade de se apresentar contra Kiir na eleição do presidente do partido em 2015, mas consta que o Presidente atual não está pronto para aceitar um tal desafio.

Segundo analistas, o Presidente deste jovem Estado está a transformar-se num ditador.

Durante os últimos combates, a guarda presidencial visou a tribo Nuer em Juba, a capital, depois das trocas de tiros noturnas ocorridas durante a convenção do partido na mesma cidade.

O Presidente falou imediatamente na tentativa de golpe de Estado, mas para, os opositores, ele usou esta palavra para poder deter o seu principal rival, Machar.

As forças leais a Machar, originário da tribo Nuer, combateram as tropas do SPLA, reivindicando a tomada de várias cidades chaves, das quais a de Bor.

As pessoas evacuadas do Sudão do Sul desde o início dos confrontos indicam uma luta pelo poder no seio do partido no poder.

As forças leais a Machar anunciaram domingo ter tomado o controlo do Estado de Unity e duma grande parte do território nacional, tendo falhado uma ofensiva militar para a reconquista da cidade de Bor no Estado de Jonglei.

Machar insistiu na organização de discussões de paz depois da libertação dos seus principais aliados políticos, dos quais Amum e o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Deng Alor, então detidos em consequência do último episódio desta luta pelo poder.

Segundo algumass vozes, Machar vai juntar-se a um chefe rebelde do Estado de Jonglei, David Yau Yau, para acentuar a pressão militar sobre o Governo de Kiir mas, o porta-voz militar do SPLA desmentiu esta provável aliança.

A emergência de novos chefes rebeldes nos diferentes Estados do Sudão do Sul é descrito por analistas como o reflexo da existência de problemas políticos profundos neste país.

Para o ex-Vice-Presidente Machar, no centro da crise atual, os problemas são causados pela ausência de partidos políticos e «eas dificuldades de transformar um movimento de guerilha num Governo viável.

Os problemas políticos foram agravados pelas divisões tribais, nomeadamente em Juba, onde os Dinka, a tribo dominante na capital, opuseram-se à deslocação interna dos Nuer, cuja potência económica se desenvolve graças a uma população mais educada.

O blogueiro e ativisa sul-sudanês Tongun Lo Loyuong criticou por seu turno a militarização crescente da crise.

Reagindo a um alegado recurso a forças ugandesas no Sudão do Sul, Loyuong considera que esta decisão do Estado é um erro de juizo que só aumenta a ira dos soldados rebeldes.

Mesmo se surtem efeitos os esforços diplomáticos atuais, envidados pela Autoridade Inter-Governamental para o Desenvolvimento (IGAD) para resolver esta crise, o Sudão do Sul, que se encontra num caminho muito estreito entre guerra e paz, faz face a um futuro difícil marcado por rivalidades tribais cada vez mais profundas.

Por: Kennedy Abwao,
correspondente da PANA