sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


Ponto Final – Muito além de Pedrinhas

10/01/14 10:45 | Gabriel de Sales (gsales@brasileconomico.com.br)

 

A situação na Penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, com a violência entre presidiários atingindo o inimaginável e cuja barbárie extrema foi mostrada nas cenas de decapitação de detentos filmada e divulgada pelos próprios presos, é, infelizmente, apenas um pequeno ato da grande tragédia vivida pela população maranhense

O estado, que tem grandes riquezas, como o gás natural, atrativos turísticos incomparáveis e uma geografia invejável, apresenta o segundo mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) brasileiro, ficando acima apenas de Alagoas. Dominado pelo mesmo clã há quase 50 anos, apresenta as características de uma capitania hereditária, o fracassado sistema de colonização do Brasil implantado por Dom João III, em 1534 e extinto em 1759.

A nova "capitania" começou a definir suas características atuais, coincidentemente, logo depois do golpe militar de 1964, com a eleição, no ano seguinte, do então deputado federal José Sarney como seu governador. Afinado com o novo regime, ele passaria a integrar, em 1966, os quadros da Arena (Aliança Renovadora Nacional), o partido criado para dar suporte aos militares golpistas no Congresso Nacional.

Em uma resumida, mas bem elaborada memória, o jornalista Ricardo Setti mostrou em seu blog, em maio de 2011, um vídeo sobre a posse do governador, com cenas de miséria e a ineficiência ou inexistência dos serviços públicos. Entre os destaques, a precariedade das prisões maranhenses.

O vídeo, dirigido pela dupla Glauber Rocha e Fernando Duarte, era claramente propagandista, apresentando o novo governador como o redentor que acabaria com todas aquelas mazelas. "Ele promete acabar com a roubalheira, com a ‘miséria, a angústia e a fome', recorda Setti.

Aconteceu o oposto, com a permanência de Sarney, seus familiares e seguidores no governo, enquanto ocorria uma contínua degradação dos indicadores sociais e econômicos estaduais. A ponto de a seccional maranhense da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), manifestar em janeiro de 2002 sua indignação com o que chamou de "sarneyzação do Maranhão". "Não há como esconder que uma sequência de 35 anos de um mesmo grupo no comando acaba prejudicando o crescimento de um estado, como no caso típico do Maranhão", declarou o presidente estadual da entidade, d. Affonso Felippe Gregory.

Em fevereiro de 2011, foi a vez da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no estado se manifestar encaminhando pedido de investigação, pela assembleia Legislativa, da situação carcerária maranhense. Passados três anos, os fatos comprovam que o pedido foi simplesmente ignorado.

Enquanto o país é obrigado a conviver com o horror em Pedrinhas, motivo até de um pedido da ONU ao governo brasileiro para que os responsáveis sejam punidos, é informado que a crise carcerária maranhense tem relação com a terceirização da mão de obra nos presídios locais, incluindo guardas responsáveis pela segurança armada.

É o que mostra o repórter Marcelo Gomes na edição de ontem do jornal O Estado de São Paulo, revelando que o representante de uma das empresas terceirizadas tem como sócio, em outro negócio, Jorge Murad, marido da governadora Roseana Sarney.

Como se vê, a tragédia do Maranhão vai muito além do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.