segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Memória Revelada

O caos do transporte ferroviário carioca

Delma Pacífico  
24/01/14 19:52

 

Na coluna de hoje, resgatamos a questão dos trens no Rio de Janeiro. Um problema antigo e que parece não ter solução a curto prazo

Há 15 anos, em 1º de novembro de 1998, a SuperVia assumiu o controle do transporte ferroviário no Rio, em substituição à estatal Flumitrens, Companhia Estadual de Trens Urbanos. A empresa administra 270 quilômetros de trilhos em oito ramais e 102 estações. Por dia, 600 mil pessoas utilizam o meio de transporte que, quando funciona adequadamente, é dos mais eficientes. Durante o ato de assinatura definitiva da concessão, a empresa garantiu trens com a mesma aparência, mas 100% confiáveis. Já no primeiro dia útil sob a nova direção, mil pessoas ficaram sem transporte. Uma composição que seguia de Gramacho para Magé descarrilou e paralisou a circulação no ramal.

 

A Odebrecht passou a controlar a empresa ao adquirir 60% do capital, em 2011. Novas promessas de melhorias foram feitas, entre elas um sistema de comunicação que permitiria ao passageiro saber o que acontece durante as viagens. Uma das reclamações dos usuários na quarta-feira, quando um trem descarrilou entre as estações Maracanã e São Cristóvão e atingiu a estrutura que sustenta os cabos da rede aérea, foi a falta de informação e orientação por parte da empresa. Mais uma vez, muitos usuários tiveram de caminhar sobre os trilhos.

Em 2009, causou indignação o fato de os agentes da Segurança Ferroviária da empresa utilizarem a corda de seus crachás como "chicotes" para empurrar os passageiros para dentro do trem, na estação de Madureira. A SuperVia foi multada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes, a Agetransp. Com um histórico de ocorrências que inclui além de agressão física, falhas no plano de contingência e mal atendimento ao usuário, a empresa acumula multas no valor de R$ 5.284,489,51. Em 2013, foram 83 registros.

Recorrentes, os problemas com a qualidade dos serviços prestado pelos trens do Rio são antigos. Em 9 de julho de 1975, o atraso de um trem com problemas causou revolta. A composição chegou em Tomás Coelho com apenas seis vagões, superlotados e sem condições de seguir viagem. Os passageiros depredaram e incendiaram um dos vagões da composição e a sala de arquivos da estação.

Atitudes como essas também ocorreram mais recentemente. Em 7 outubro de 2009, uma pane em um dos trens fez a manhã ser de caos e fúria com a paralisação do ramal de Japeri. Dezesseis pessoas ficaram feridas, duas estações foram depredadas e dois vagões foram incendiados em uma terceira estação. Ano passado, passageiros ficaram trancados em vagões na Estação Engenho de Dentro. Depois de meia hora foram avisados que teriam que retornar à estação Quintino.

Revoltados, alguns deles atearam fogo na cabine do maquinista.

O Rio de Janeiro é pioneiro na construção de ferrovias, por iniciativa do capital privado. Os trilhos começaram a ligar o estado ainda no período imperial. A Estrada de Ferro Petrópolis, também conhecida como Estrada de Ferro Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854 por Dom Pedro II, foi a primeira do país. Construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, ligava inicialmente o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, a Raiz da Serra, em Magé, encurtando o tempo de viagem até Petrópolis. Entre os anos 1950 e 1960, com a industrialização e a urbanização, o setor rodoviário passou a ser favorecido e as ferrovias brasileiras foram levadas ao sucateamento. A Rede Ferroviária Federal S/A, criada em 1957 para unificar essas empresas, foi oficialmente extinta em 2007, depois de passar por várias crises, e de ter muitos trechos desativados.