sábado, 18 de janeiro de 2014


Sudão do Sul: ‘O que vi foi um horror’, diz secretário-geral assistente da ONU para direitos humanos

17 de janeiro de 2014 · Destaque - ONU 

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Secretário-geral assistente da ONU para Direitos Humanos, Ivan Šimonović visita Sudão do Sul. Foto: UNMISS/Patrick Morrison

“O que eu vi foi um horror. Destruição e morte estão por toda a parte em Bentiu, que agora se tornou uma cidade fantasma“, relatou o secretário-geral assistente da ONU para os Direitos Humanos, Ivan Šimonović, nesta sexta-feira (17), após uma visita de quatro dias ao Sudão do Sul. “Eu mesmo vi 15 corpos deitados em uma estrada.”

Simonović, que foi verificar a situação humanitária do país, afirmou que “um mês de conflito fez com que o Sudão do Sul retrocedesse uma década”, acrescentando que recebeu relatos de assassinatos em massa, execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, violência sexual, destruição generalizada de propriedades e uso de crianças nos combates.

Ele ressaltou que a crise, que começou política, agora se tornou um conflito entre etnias, com um grupo culpando o outro pela tragédia no país, onde milhares de pessoas morreram e outras milhares estão deslocadas internamente. Cerca de 66.9 mil sul-sudaneses procuraram proteção em bases da ONU.

“As comunidades mais afetadas estão em Juba e em comunidades que mudaram de governo várias vezes, como Bentiu e Bor. Isto levou à violência comunal generalizada e destruição”, destacou.

Na visita a Bor, Simonović conversou com o líder das forças antigoverno, Peter Gadet, para lembrá-lo de suas obrigações em proteger os civis. Em Juba, ouviu relatos de um assassinato em massa em uma delegacia cujos presos morreram por causa de sua etnia.

Simonović se reuniu com autoridades, forças antigoverno, grupos armados, funcionários da ONU, representantes da comunidade diplomática e uma ampla gama de atores da sociedade civil, incluindo os líderes tradicionais e comunitários. Ele também esteve com deslocados internos e vítimas dos combates.

“Apontar os responsáveis é fundamental. Uma comissão de inquérito independente e imparcial deve ser estabelecida o mais rápido possível. Aqueles que cometeram esses crimes terríveis, que ordenaram ou que não fizeram nada para impedi-los enquanto estavam em posição de fazê-lo, devem ser responsabilizados sem demora”, disse.

A Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) tem desempenhado um papel fundamental na proteção dos civis ao longo das últimas semanas, observou Simonović. “Se a UNMISS não tivesse aberto suas portas para proteger os civis que fogem da violência, não há dúvida de que os assassinatos teriam acontecido em uma escala muito maior”, afirmou.

Ele pediu que todas as partes envolvidas no conflito permitam que as organizações entreguem ajuda humanitária a quem necessita e disse que vai continuar alertando a comunidade internacional sobre a situação dos direitos humanos no país, além de sugerir ao secretário-geral da ONU e ao Conselho de Segurança algumas medidas para evitar novas violações de direitos humanos no país.

Os confrontos no Sudão do Sul foram retomados em 15 de dezembro, quando o presidente, Salva Kiir, afirmou que soldados leais ao ex-vice-presidente Riek Machar, destituído do cargo em julho, tentaram aplicar um golpe de Estado. Desde então, a violência tem se caracterizado cada vez mais como perseguição étnica, já que Kiir é do grupo Dinka e Machar, do Lou Nuer.