quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Homenagem a um Soldado


 

Gen Ex Antônio Araújo de Medeiros, o “Cabra”.

Caros amigos

Recebi, há pouco, a triste notícia do falecimento do Gen Medeiros, amigo de quem, por três anos, fui assistente e privilegiada testemunha de suas virtudes de comandante, líder, amigo, cidadão, pai e avô extremado e marido fiel e apaixonado!

Conheci o Gen Medeiros e sua família em 1964, quando meu pai, concludente do Curso de Estado Maior, foi classificado em Uruguaiana. Fomos vizinhos!

Desde aquela época, chamava-me a atenção a admiração que lhe dedicavam seus amigos, subordinados, pares e superiores, principalmente pelo carisma natural, pela simplicidade, pela viva inteligência, pela rapidez de raciocínio, pela franqueza, pela iniciativa, pela humildade e pela liderança!

Fui testemunha de todas as virtudes do “Cabra Medeiros”, do seu amor ao Exército, à Cavalaria e a seus símbolos.

Foi jogador de pólo eficiente, aguerrido e vibrante. Tive a ventura de ser seu parceiro em inúmeros torneios nos campos do Regimento de Dragões da Independência. Compartilhei com ele um “baita piquete”, onde constavam, entre tantos craques, a éguas “Gringa” e “Reiuna” e o famoso gateado “Cabra”, considerado, à época, o melhor cavalo de pólo do EB!

Aprendi muito com o Gen Medeiros e fui testemunha de exemplos que para sempre orientarão a minha vida, particularmente a sinceridade, a coragem moral, o dinamismo e a iniciativa.

Como General de Exército era ainda o mesmo “Capita debruçado na peiteira” que a todos empolgava com seu entusiasmo!

Dentre os muitos casos que emolduraram sua admirável personalidade, uma marcou-me especialmente. Durante a preparação de uma manobra na Amazônia - “Operação Surumú” -, na região de Roraima, enquanto ele era o Sub Comandante do COTER, intermediei um encontro entre ele e o então Adido do Exército Francês no Brasil que, por dever e curiosidade profissional, pleiteava a oportunidade para acompanhar a manobra. O General o recebeu com a sua natural descontração e informalidade e ouvido o pedido, disse-lhe sorrindo, com sua voz alta e seu sotaque nordestino: “Cabra, vai ser um prazer ter você conosco! Você vai comigo, no meu helicóptero. Vou lhe mostrar tudo! E sempre que você quiser ir até a Amazônia, venha me pedir, porque se um dia você ou qualquer um dos seus puser o pé lá sem ser convidado, vocês vão me encontrar lá, como índio, como caboclo, como soldado ou como general e vocês vão levar o maior pau da vida de vocês!”

Assim era o General Medeiros, direto, objetivo, sincero, vibrante...

Finalizo lembrando sua religiosidade. Devoto sincero de Nossa Senhora de Schoenstatt, ergueu várias capelas à Santa por todos os lugares por onde passou, particularmente em Brasília onde, em terreno doado pelo EB, construiu seu Santuário.

A fé que praticava com Dona Shirley, seus filhos e netos nos assegura que, em meio à tristeza de seu passamento, podemos afirmar que a vontade de Deus, escrita com Suas linhas tortas e quase nunca inteligíveis, por certo abriu-lhe com carinho e consolo as portas do Paraíso, de onde velará por nós e pelos seus queridos, rogando ao Pai que console e ajude a nós todos a perseverar na fé que tantas vezes o ajudou a vencer os momentos de dificuldade e desesperança!

Sentiremos a sua falta, nos consola a sua fé!

PChagas