terça-feira, 3 de abril de 2012

Últimos 10 reféns das Farc são libertados
Militares são recebidos em Bogotá; Farc reafirmam que vão abandonar o uso de sequestro
com agências internacionais

VILLAVICENCIO, Colômbia — Os 10 militares colombianos libertados hoje pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a Bogotá nesta segunda-feira, onde passarão por exames médicos. Eles eram os últimos reféns militares da guerrilha e foram resgatados por uma missão humanitária da qual o Brasil participou.
— As Farc me notificaram em 11 de novembro (de 2011) que iriam me libertar — disse o sargento da polícia José Libardo Forero, sequestrado em 1999, à Rádio Caracol.
Ao desembarcar, alguns deles traziam animais da selva. Um dos resgatados correu alguns metros envolto em uma bandeira da Colômbia.
— Essa operação em um único dia permitiu que dez famílias voltassem a estar juntas depois de estarem separadas por tantos anos. A agonia dessas famílias termina hoje. Isso nos dá grande satisfação — disse Jordi Raich, chefe do Comitê Internacional da delegação da Cruz Vermelha.
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, os reféns foram libertados “numa zona rural entre os limites dos departamentos de Meta e Guaviare”. “Estas pessoas foram entregues a uma missão humanitária formada por membros da (ONG) Colombianas e Colombianos pela Paz e delegados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha”, acrescentou o comunicado da organização.
Libertação é novo gesto das Farc
A libertação dos reféns é entendida como uma nova sinalização das Farc, considerada a insurgência mais antiga da América Latina. Em fevereiro, os rebeldes haviam se comprometido a não mais realizar sequestros. A guerrilha divulgou hoje um comunicado reiterando essa decisão.
— Esse gesto não pode ser subestimado. O governo realmente deveria entender isso (a promessa de fim dos sequestros) como um sinal de que as Farc realmente estão interessadas no diálogo e em avançar no processo para acabar com os conflitos — diz o analista de conflito Juan Carlos Palou.
Mas muitos colombianos ainda se mantêm céticos quanto à possibilidade de a guerrilha, que supostamente ainda tem 700 reféns civis, abandonar as armas após ter se aproveitado de diálogos anteriores para se fortalecer.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, exige que as Farc liberte todos os prisioneiros e deixe de fazer ataques a alvos civis e militares antes de qualquer diálogo. Ao comunicado de hoje, Santos respondeu que a medida não é suficiente.
Mau tempo atrasou operação
Após um atraso de mais duas horas, um helicóptero decolou de Villavicencio, no departamento de Meta, para iniciar a primeira etapa do resgate dos últimos dez reféns militares — que o grupo guerrilheiro originalmente pretendia trocar por integrantes presos. A demora no início da operação foi causada pela chuva que atingia a região no início da manhã. A ex-senadora e líder do grupo Colombianos pela Paz, Piedad Córdoba, mediadora da missão, havia garantido que o mau tempo não cancelaria a ação. A chegada da equipe brasileira à cidade atrasara duas horas no domingo também devido ao mau tempo.
As coordenadas do local onde os reféns seriam entregues pelas Farc não foram divulgadas. A decolagem das aeronaves estava prevista para 10h de Brasília.
Os últimos reféns são seis policiais e quatro militares que estão entre 12 e 14 anos sob poder dos insurgentes colombianos. Eles foram sequestrados durante diferentes ações no fim da década de 1990, quando era comum que os guerrilheiros atacassem bases militares, matassem dezenas de soldados e sequestrassem outros tantos.
Os sequestrados são os sargentos Luis Alfonso Beltrán, Luis Arturo Arcia, Róbinson Salcedo, Luis Alfredo Moreno e César Augusto Lasso; e os policiais Wilson Rojas, Carlos Duarte, Jorge Romero, Jorge Trujillo e José Libardo Forero. Trata-se de uma ação unilateral da guerrilha, que Piedad definiu como um gesto político, uma tentativa de voltar à mesa de negociações.
As operações militares na região do resgate foram suspensas entre 18h de domingo e 6h de terça-feira, por causa dos protocolos de segurança. Apenas parte dos reféns seria entregue nesta segunda-feira. Um segundo grupo seria, então, libertado na quarta-feira. Mas na tarde desta segunda veio a notícia de que todos poderiam ser soltos de uma só vez. Familiares dos sequestrados aguardam em Villavicencio, a cerca de 75 km de Bogotá, onde foi celebrada uma missa no domingo.
No helicóptero responsável pelo resgate viajam, além da tripulação brasileira, Piedad Córdoba e outra integrante do Colombianos pela Paz e dois delegados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Um outro helicóptero da Força Aérea Brasileira ficou no aeroporto para caso de emergência. O governo brasileiro e a ONG Asfamipaz, que reúne famílias das vítimas, também atuam como mediadores na operação.
O uso de aeronaves de outro país se tornou uma exigência desde que, em julho de 2008, 15 reféns das Farc foram resgatados por soldados do Exército colombiano que se fizeram passar por uma missão humanitária internacional a bordo de um helicóptero pintado como se fosse civil.
Os militares brasileiros partiram de São Gabriel da Cachoeira, município localizado no Amazonas, na fronteira com a Colômbia, em direção a Villavicencio, no país vizinho. De lá, foram informados das coordenadas onde os reféns estavam e foram em busca dos dez homens. Não houve participação dos militares colombianos, condição necessária para que os guerrilheiros libertassem os reféns. O Brasil também ajudou na operação com dois helicópteros e um avião de suprimentos.