quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O último adeus ao Mercosul

O ponto central nem chega a ser o fato de, ao abrir as portas para o "bolivariano" Hugo Chávez, o Mercosul jogar uma pá de cal sobre os princípios que fundamentaram a criação do bloco.
O velho coronel não é o que se pode chamar de democrata - e a mais recente prova disso é a maneira com que ele tem conduzido a campanha que garantirá seu "nãoseiquantésimo" mandato de presidente da Venezuela.
Pelas leis do país, ele e os demais candidatos nas eleições do próximo dia 3 de outubro (inclusive seu principal opositor, Henrique Capriles) terão o mesmo tempo de propaganda nos canais de televisão: 3 minutos diários cada um.
Só que o "bolivariano", nesses dias que antecedem às eleições, intensificou a convocação de "cadeias nacionais" - nas quais fala o que quer pelo tempo que bem entende. E, assim, faz campanha por muito mais tempo do que os rivais.
Até aí, tudo bem: é essa cara de pau que torna Chávez invejado por outros governantes que só não agem da mesma forma porque não podem (e nunca porque não querem).
Portanto, o que torna o Mercosul menor com a presença da Venezuela não são as ideias de Chávez. O problema é que por trás da inclusão do novo sócio está a morte dos fundamentos econômicos que deram origem ao bloco.
Em 1991, os governos do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai firmaram o Tratado de Assunção num momento em que duas circunstâncias comuns os uniam. A primeira era o fato de todos estarem, naquele instante, superando ditaduras.
A outra era o fato de viverem, então, o auge de problemas econômicos que expunham sua fragilidade perante o mundo. A ideia do bloco - que se sustentava sobre uma aliança aduaneira que começou a funcionar em dezembro de 1994 - não era chamar os países ricos para o confronto.
Era, sim, ganhar musculatura e aumentar a força relativa na hora de negociar contratos com os parceiros internacionais. Com a chegada da Venezuela, essa definição cede definitivamente lugar para a tese argentina, segundo a qual a razão de ser do Mercosul é fomentar negócios no interior do bloco - e não de seus integrantes com os outros países.
A bem da verdade, o bloco nunca chegou a cumprir o objetivo original em sua plenitude - mas ainda mantinha viva a esperança de que isso pudesse vir a acontecer. Desde o início, o Brasil sempre pagou pelo fato de se unir a parceiros menos competitivos.
Em alguns momentos, seus interesses deixavam de ser respeitados porque, como a parte mais forte, podia conceder benefícios aos demais. Em outros instantes, levava-se em conta os interesses dos parceiros que, por serem a parte fraca, sempre eram mais aquinhoados.
E toda vez que essa moeda de lados idênticos era lançada para definir a sorte do Mercosul, o Brasil saía perdendo. Com a Venezuela no bloco, esse discurso fica ainda mais fortalecido.
O país de Chávez ainda tem o agravante de prometer e não cumprir os acordos que celebra com os parceiros - e os calotes que deu na Petrobras em torno da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, são as provas disso.
O Brasil ainda terá motivos para se arrepender de ter aberto a Chávez as portas do Mercosul - que desde ontem, para todos os efeitos, pode ser considerado um organismo morto.
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Ricardo Galuppo é Publisher do Brasil Econômico