quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Um gerente para o pacote do governo
16/08/12 07:37 | Joaquim Castanheira - Diretor de Redação do Brasil Econômico

O governo anunciou ontem, com toda a pompa que cerca tais eventos, um pacotaço de R$ 133 bilhões para concessões de rodovias e ferrovias. Essa dinheirama contempla a recuperação de parte das sucateadas estradas de ferro do país e de nove trechos de rodovias hoje sob gestão pública.
Qualquer avaliação sobre o plano será como um abaixo-assinado a favor da energia elétrica: todo mundo apoiará. Mas cabe aqui a frase atribuída a Garrincha em 1958: "avisaram os russos?".

Ou seja, a intenção é a melhor possível e não há dúvidas sobre a importância de investimentos na área de transporte - resta que todos os agentes (sobretudo as autoridades) cumpram os compromissos e respeitem o cronograma estabelecido. É uma "ameaça" que paira permanentemente sobre a cabeça dos projetos oficiais.

É só analisar a mais recente rodada de concessões de estradas federais, realizada em 2007. Na ocasião, foram licitados pouco mais de 250 quilômetros de rodovias. No total, a previsão de investimentos encosta na casa do bilhão de reais. Também se previa que as obras estivessem finalizadas em até seis anos, isto é, em 2013.

Pois bem, até agora foi desembolsado pouco mais de R$ 100 milhões e nenhum dos projetos encontra-se inteiramente concluído. Algumas nem sequer saíram do papel. Os motivos são os de sempre: excesso de burocracia, demora na concessão de licenças ambientais, falta de capitalização das empresas, etc., etc.

Tudo poderia caminhar mais rápido se grandes planos governamentais tivessem um "dono" ou "gerentão", como se costuma dizer nas empresas privadas. Programas como o que foi anunciado ontem pela presidente Dilma permeiam diversos ministérios e órgãos públicos: Transportes, Planejamento, Meio Ambiente, Valec, entre outros.

São vários responsáveis pelo mesmo assunto. E, apelando mais uma vez para uma expressão popular, cachorro com diversos donos morre de fome.

Como exemplo, voltemos a 2001, quando o país foi surpreendido pela ameaça de um colapso na energia elétrica, episódio conhecido como apagão, fruto da falta de planejamento e investimento no setor.

O então presidente Fernando Henrique Cardoso tomou uma decisão crucial para a solução da crise: criou um grupo de trabalho interministerial para coordenar as ações do governo no programa de racionamento e nomeou como líder um de seus ministros, Pedro Parente, com poder suficiente para superar as possíveis travas da máquina pública. O cenário daquele momento, de certa forma, se repete nos dias atuais.

Não há risco de blecautes generalizados, mas o setor logístico vive próximo do colapso. O programa anunciado ontem pela presidente é um primeiro, e importantíssimo, passo para resolvê-lo. Falta tirá-lo do papel. Um gestor com talento, determinação e poder pode solucionar também essa questão.
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Joaquim Castanheira é Diretor de Redação do Brasil Econômico