27.agosto.2013
00:43:57
A armadilha de Obama na Síria
Barack Obama criou uma armadilha para seu próprio governo ao
afirmar há um ano que o regime do ditador sírio Bashar al-Assad cruzaria a
“linha vermelha” se usasse armas químicas contra sua própria população. Na
quarta-feira, as imagens de civis agonizando vítimas de uma arma invisível
tomaram conta do mundo e colocaram Obama em uma situação na qual alguma forma
de reação militar contra a Síria se tornou inescapável. A inação poderá colocar
a potência global em uma situação de fragilidade e reduzir o impacto de
eventuais futuras advertências contra seus adversários, entre os quais o Irã.
Depois que a história se encarregou de revelar a farsa das armas
de destruição em massa construída por George W. Bush para justificar a invasão
do Iraque, em 2003, é legítimo duvidar da acusação contundente do governo Obama
de que o regime de Assad foi o responsável pelo ataque que deixou pelo menos
1.000 mortos há quase uma semana. Mas existe agora algo que estava ausente há
uma década: as imagens dos sírios sucumbindo a um gás fatal.
John Kerry, o secretário de Estado americano, afirmou ontem que a
situação mostrada nas imagens que percorreram o mundo é “real” e foi confirmada
por relatos de ONGs e observadores internacionais em Ghouta, o local nos
arredores de Damasco alvo do ataque. Para Kerry, é “inegável” que armas
químicas foram utilizadas pelo regime sírio, o que coloca Assad além da “linha
vermelha” traçada por Obama.
O governo de Damasco nega a acusação e sustenta que os rebeldes
são os responsáveis pelo uso de armas químicas. Mas na avaliação dos
americanos, só o governo teria a capacidade de lançar um ataque como o
registrado na quarta-feira. “Nós sabemos que o regime sírio tem armas químicas
em seu poder. Nós sabemos que o regime sírio tem capacidade de fazer isso (o
ataque) com foguetes. Nós sabemos que o regime estava determinado a remover a
oposição precisamente dos lugares onde os ataques ocorreram. E com nossos
próprios olhos, todos nós nos tornamos testemunhas.”
O desafio de Obama agora é definir uma resposta forte o suficiente
para provocar um golpe no regime de Assad, mas não ampla o bastante para levar
os Estados Unidos a se envolverem na guerra civil síria. Resta saber se isso é
possível.
PS: Como vocês viram em um post anterior, deixei de ser
correspondente do Estado em Pequim. A partir de agora, estarei em Washington.
Não deu tempo ainda de mudar o nome do blog nem colocar uma foto local. Mas
prometo mudanças até o fim da semana, se a Síria e o Obama deixarem.