quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Kerry diz que espionagem ajuda a garantir segurança de brasileiros
Em visita ao Brasil, secretário de Estado americano diz que país 'merece respostas' por vigilância
Chanceler Antonio Patriota afirma que falta de transparência poderá "projetar sombra de desconfianças"
FLÁVIA FOREQUE DE BRASÍLIA
Em visita ao Brasil, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, defendeu ontem a espionagem global feita por seu país, inclusive no território brasileiro.
Sem citar o termo "espionagem", Kerry disse que a iniciativa visa a garantir a segurança de cidadãos de todo o mundo, bem como brasileiros.
"Vamos continuar tendo esse diálogo para ter certeza de que seu governo entenda perfeitamente e esteja de acordo com o que precisamos fazer para garantir a segurança não apenas para norte-americanos, mas para brasileiros e pessoas no mundo", afirmou Kerry.
Ao lado dele, o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores), no entanto, afirmou que a falta de transparência sobre a ação pode gerar atritos na relação bilateral. "Caso as implicações desse desafio não sejam resolvidas de modo satisfatório, corre-se o risco de se projetar uma sombra de desconfianças sobre nosso trabalho."
Durante a reunião, o secretário americano reconheceu que faltou uma comunicação prévia sobre as "ações de inteligência" --termo usado por ele na conversa--, mas afirmou que o país quer prestar esclarecimentos ao Brasil.
Kerry afirmou que o Brasil "merece respostas" sobre a espionagem e disse que os EUA vão se "esforçar para que esses problemas não interfiram" na agenda bilateral.
Ele destacou ainda que essa política teve o aval não apenas do Executivo como também do Congresso norte-americano, como resposta aos atentados terroristas de setembro de 2001.
O chanceler brasileiro adotou um tom mais incisivo. Patriota pediu o fim da espionagem no Brasil --ou das "interceptações de comunicação", como disse no encontro com o americano.
Para o ministro, o episódio representa um "novo desafio" para os dois países. "Esclarecimentos não são um fim em si mesmo. Ouvir esclarecimentos não significa aceitar o status quo. Precisamos descontinuar práticas atentatórias à soberania (...) e violatórias das liberdades individuais que nossos países tanto prezam", afirmou.
Mais tarde, Kerry se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Ela também pediu explicações sobre a espionagem americana.
A Folha apurou que o secretário repetiu os argumentos que havia dito mais cedo: o trabalho do serviço de inteligência é necessário para a proteção dos EUA e de outros países, mas que se esforçará para que isso não interfira nas relações bilaterais.
'VAI EMBORA, ESPIÃO'
Ao deixar o Itamaraty rumo ao Planalto, Kerry foi alvo de protestos. "Vai embora espião, deixa meu país", gritou um manifestante.
Colaborou TAI NALON, de Brasília