Parlamento britânico vota
contra intervenção militar na Síria
David Cameron
defendia a ação contra o regime de Assad mas disse que vai respeitar a decisão
Atualizada
às 21h30
LONDRES - Os Estados Unidos
perderam na noite desta quinta-feira um importante aliado para o plano de
intervenção miliar na Síria. Após o Parlamento da Grã-Bretanha rejeitar a ação
internacional contra o regime de Bashar Assad, o primeiro-ministro inglês David
Cameron sinalizou que deve retirar o apoio à ação planejada por Washington em
resposta ao suposto uso de armas químicas. "É claro para mim que o
Parlamento britânico reflete a visão do povo britânico que não quer ver
militares britânicos em ação", disse Cameron.
Após longo e acalorado debate
em uma votação com a presença do primeiro-ministro, o apoio aos EUA foi
rechaçado por 285 parlamentares contra 272 que apoiaram a intervenção. Diante
do placar desfavorável, Cameron reafirmou a suspeita de que Assad tenha usado
armas químicas, mas disse que respeitará a decisão do Parlamento e que o
governo vai agir "em conformidade" com o resultado da votação.
Na prática, a decisão dos
parlamentares vai excluir o envolvimento britânico nas ações lideradas pelos
Estados Unidos contra Assad. A derrota aconteceu um dia após o Reino Unido ter submetido
ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução que condenava a ação
do governo sírio e pedia autorização para "medidas necessárias" para
proteger civis.
Após a suspeita de que armas
químicas mataram mais de 1.000 pessoas nos últimos dias nos arredores de
Damasco, Londres foi um aliado de primeira hora à intenção de Washington de
intervir militarmente contra o regime sírio. Outro aliado é a França.
Após a derrota, o secretário
inglês de Defesa, Philip Hammond, disse que o governo Cameron estava
"desapontado" com a votação e demonstrou certo constrangimento diante
do prometido apoio aos EUA. Apesar disso, afirmou que o país não estará
envolvido em eventuais ações militares contra o governo da Síria. "Espero
que os Estados Unidos e outros países sigam olhando para respostas ao ataque
químico. Eles podem ficar desapontados com o não envolvimento da Grã-Bretanha.
Eu espero que a ausência da participação britânica não interrompa qualquer
ação", disse Hammond.
A derrota desta quinta-feira
tem um expressivo valor simbólico: Cameron é o primeiro líder britânico em
décadas que não conseguiu apoio da maioria dos parlamentares para enviar tropas
em uma ação militar conjunta com os EUA. Na história recente, a oposição sempre
apoiou as grandes investidas militares da Grã-Bretanha, como na Guerra das
Malvinas contra a Argentina em 1982 e na Guerra do Iraque em 2003.
Acuado pela crise econômica e o
avanço dos partidos de oposição - seja a esquerda Trabalhista ou partidos
pequenos à direita, o primeiro-ministro Conservador pode ser considerado o
grande derrotado desta quinta-feira. Enquanto o placar da votação era lido na
Câmara dos Comuns, um dos parlamentares presentes à sessão gritou
"renúncia" a poucos metros de David Cameron.