sexta-feira, 13 de junho de 2014


A greve sem dono


Na terça-feira, dia 10, as filas nos caixas eletrônicos dos bancos estavam dando voltas


Nadja Sampaionadja.sampaio@brasileconomico.com.br

E, como sempre pode piorar, várias caixas estavam sem sistema. Todos estavam dependendo dos caixas eletrônicos porque há 48 dias os vigilantes dos bancos estão em greve. E os clientes que se virem. Os poucos funcionários que aparecem dizem que nada podem fazer porque a greve não é deles, e nos mandam usar a internet. Pergunto para os vigilantes que estão nas agências perto da minha casa quando a greve vai acabar e como andam as negociações. Eles respondem que nada avança porque os patrões não comparecem às assembleias, e as conversas estão travadas. As conversas e as portas giratórias.

Com a alegação de que, por lei federal, uma agência tem que ter uma quantidade mínima de seguranças para que o atendimento seja feito normalmente, cada banco adotou uma regra, e os consumidores que se adaptem. Em um, o cliente pode entrar e pagar contas nos caixas ou fazer outras operações, desde que utilize o cartão, sem uso de dinheiro. Em outro banco, só pode entrar se for falar com o gerente. No terceiro, pode entrar para algumas operações, todas sem dinheiro. E no quarto, pode entrar e usar os caixas, mas somente alguns de cada vez.
Enquanto isso, o povo ferve na área dos caixas eletrônicos. As filas dos caixas que aceitam depósitos estão sempre enormes, cheias dos gerentes das lojas vizinhas.

Quem precisa pagar funcionários com dinheiro ao vivo tem que voltar duas, três vezes, em dias diferentes, para sacar o máximo por vez, e se arriscar, mais vezes, a andar com dinheiro no bolso. Os mais idosos nem sempre se entendem com estas máquinas, e demoram. Dia desses, uma cliente mais idosa, lutando com a leitura de um código de barras, perguntou para o único funcionário que transitava na área: a greve é dos vigilantes, né? Ele confirmou. E ela emendou, então, onde estão os funcionários? Os caixas deveriam estar aqui fora para nos ajudar. Eu não me meti, mas pensei cá com meus botões: o gerente deve estar aproveitando para zerar o banco de horas da rapaziada.

A cada dia que tive que enfrentar este cenário, saí da agência pensando: o que é que eu tenho a ver com a greve dos vigilantes? Não tenho nenhuma relação com esse moço pouco simpático, que está cansado de me ver entrando, e sempre me olha de esguelha como se me visse pela primeira vez. A não ser pelo fato de eu insistir em lhe dar bom dia. Sou cliente do banco e fui descontada, direitinho, da tarifa que pago, mensalmente, para esta instituição me prestar serviço. Portanto, fiz a minha parte.

Quem contratou o vigilante foi o banco. O risco do negócio é do banco. Se a empresa de vigilantes contratada falhou, o banco tem que substituir este profissional por outro. E não fechar as portas. Bem, se fechar e não prestar o serviço, também não pode cobrar.
O consumidor é tolerante, entende que os vigilantes precisam de reajuste e que suas reivindicações são legítimas. Porém, o impasse não pode ser eterno. Quem são os patrões dos vigilantes? É uma greve sem dono? Quem se responsabiliza pelos prejuízos dos clientes dos bancos? E por que o banco não colabora com seus clientes, com mais funcionários e soluções alternativas?

A questão, como sempre, é que as relações se resumem à queda de braço entre empresários. Ninguém se preocupa realmente com as pessoas envolvidas. Os patrões dos vigilantes não se importam com os incômodos para os clientes dos bancos. E também não estão preocupados se a categoria ganha pouco, se tem pouco treinamento e é exposta ao risco. Deixam a pressão aumentar como forma de avisar aos bancos que este aumento de custo será repassado nas próximas faturas. E tenho certeza de que não haverá diminuição nos lucros dos bancos por causa da incorporação deste repasse. Uma hora a conta vai chegar para nós, clientes, que pagamos as tarifas — descontadas na fonte, que nem imposto — com serviço ou sem serviço, e sempre aumentando.

Os donos dos bancos também não pensam nos clientes. Por que, afinal, pensar numa minoria, que já devia estar acostumada a usar o banco na internet? Os clientes que interessam, os que tem investimentos ou que devem muito, o gerente atende, no telefone ou pessoalmente. O resto, bem, o resto são muitos, mas pequenos, se viram. Pois é, são muitos, e com memória. E são estas experiências, que vão se acumulando na nossa memória de consumidor, que fazem com que a gente goste ou não de uma marca.

No fim do dia, ouço a notícia de que a greve dos vigilantes acabou. A categoria aceitou o reajuste salarial de 8% (retroativo a março e sem desconto de dias parados) e aumento do tíquete refeição, de R$ 13 para R$ 23. E vai continuar lutando pelo retorno do pagamento do adicional de 30% do salário base, por risco de morte.

Amanhã, tudo volta ao normal. Mas, nós consumidores, colocamos mais uma pedrinha na imagem multifacetada que guardamos das empresas que nos vendem serviços. E, verificamos neste episódio com os bancos, que a parceria bonita, de ser aquele que está ao nosso lado, é só na propaganda. Na realidade, na hora do aperto, a gente só ouve “não podemos fazer nada”. Podemos lembrar de não acreditar na propagada e não sermos mais um “bom cliente” para os gerentes, comprando produtos financeiros desnecessários. Mas, seria muito melhor que o banco fizesse o que promete na propaganda, pensasse nas pessoas, e fosse realmente parceiro dos clientes.