segunda-feira, 2 de junho de 2014


Seminário reuniu cerca de 500 pessoas. Foto: UNIC Rio/Gustavo Barreto
‘Esforço nobre, mas perigoso’: seminário comemora dez anos de atuação da ONU e Brasil no Haiti
30 de maio de 2014 · Destaque  - ONU

Em comemoração ao Dia Internacional dos Trabalhadores das Forças de Paz, marcado todo 29 de maio, e o aniversário de 10 anos da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), foi realizado nesta sexta-feira (30), na Escola de Guerra Naval do Rio de Janeiro, o seminário “MINUSTAH e o Brasil – Dez anos pela paz no Haiti”.
Com a presença de autoridades da ONU, do Itamaraty e das tropas brasileiras, além de representantes de instituições civis, o seminário buscou refletir sobre os desafios, sucessos e falhas da Missão, debater sobre o seu futuro e o da nação haitiana e, em um cenário mais amplo, reforçar a importância das missões de paz da ONU na estabilização de países e prevenção de crises humanitárias.
“É um esforço nobre, mas perigoso”, resumiu o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil, Giancarlo Summa, que abriu o evento. “Só no ano passado morreram 103 capacetes-azuis em todo o mundo e, desde o início das operações de paz, já são mais de 3,2 mil mortos.”
Necessidade de desenvolvimento
No primeiro dos dois painéis do evento, intitulado “Grandes desafios” e mediado pelo almirante de esquadra (RM1-FN) Alvaro Monteiro, os debatedores discutiram os principais obstáculos à atuação brasileira no contexto organizacional da Missão – especialmente questões de logística, limitação de recursos, burocracia e impasses com a legislação interna.
Sobre sua “grande decepção em termos de estrutura”, o general de exército R1, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, afirmou que “uma missão de paz deveria ter um departamento para cuidar de projetos de desenvolvimento, e continuo achando que a ONU deveria ter gente especializada em aplicar imediatamente todos os recursos recebidos para melhorar a vida da população”.
Após detalhar e explicar o quadro hierárquico da Missão, o contra-almirante (FN) Paulo Zuccaro destacou o curioso papel do esporte na aproximação entre culturas, lembrando a partida de futebol entre as seleções do Haiti e Brasil em 2004 – o “Jogo da Paz” –, enquanto o diretor executivo da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, mencionou a natureza turva dos conflitos no país, sem lados claramente definidos.
O perigo da interferência
Já o segundo e último painel – “O Brasil e as Operações de Paz após a MINUSTAH”, moderado pelo coordenador de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, Kai Kenkel – viu um questionamento sobre os propósitos das missões de paz no discurso do general de divisão e ex-comandante de força da MINUSTAH, Carlos Alberto dos Santos Cruz.
“A ação militar, apenas, não vai resolver nada. Ela pode resolver o problema de violência física, mas não é a solução do problema real”, disse, justificando políticas que levem em conta a realidade local e os entraves socioeconômicos do Haiti. Sobre o tema da interferência estrangeira, Santos Cruz apontou para os possíveis prejuízos da atuação de organizações não governamentais.
“Um dos problemas de uma operação como esta é o risco, não só da Missão, mas também de ONGs deformarem completamente o quadro e o relacionamento social. A política consiste em um jogo de pressões, e muitas vezes uma proteção excessiva do governante elimina essa dinâmica de forças. Por isso, temos que ver se às vezes nós não estamos perpetuando essas relações perniciosas.”
Sobre a Missão de Paz no Haiti
A MINUSTAH foi estabelecida em primeiro de junho de 2004 pela resolução 1542 do Conselho de Segurança da ONU.
Até janeiro de 2010, apesar das muitas dificuldades, o Haiti parecia rumo à estabilidade, até que um terremoto de sete graus na escala Richter deixou mais de 220 mil de mortos – entre eles, 102 funcionários da ONU – e 1,5 milhão de desabrigados, segundo dados da Missão.
Entre os 21 brasileiros vitimados pela tragédia estavam a fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, e o representante especial do secretário-geral da ONU para o país, Luiz Carlos da Costa.