terça-feira, 10 de junho de 2014


Esperança e história

Assim como caiu o Muro de Berlim em 1989, um dia haverá paz na Terra Santa entre israelenses e palestinos

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Em 1985, Berlim era uma cidade dividida pelo muro. No lado ocidental, vivia-se com a liberdade de expressão de qualquer grande centro da Europa democrática. No lado oriental, porém, o clima era pesado, não pelo comunismo ali instalado desde 1945, mas muito mais pela presença de tropas da União Soviética. Os turistas deparavam-se com uma situação estranhíssima. Para visitarem atrações no setor comunista, tinham de pegar o metrô e saltar na estação de Friedrichstrasse. Antes, o trem passava lentamente por cinco estações fantasmas, protegidas por guardas e cães pastores. Em Friedrichstrasse, tinham de apresentar o passaporte e passar pela aduana (havia até freeshop de cigarros e bebidas). Turistas e alemães com mais de 60 anos podiam transitar de um lado para o outro, mas só até as dez horas da noite. Quem ia ao Berliner Ensemble, criado por Bertolt Brecht, era obrigado a deixar o teatro no meio da peça. E sair correndo para embarcar no último metrô.

Depois de uma semana de perplexidade, um brasileiro comentou com alemães ocidentais que o Muro de Berlim, que foi erguido pelos russos no auge da Guerra Fria em 1961, não fazia mais sentido algum. Era uma vergonha uma das principais capitais europeias ser partida em dois na beira do Terceiro Milênio. O Muro era um anacronismo que não resistiria à virada do século. Sua previsão foi recebida com risos e profundo ceticismo. Só mesmo um estrangeiro, ignorante da realidade das duas Alemanhas, para acreditar no fim da divisão. O turista não recuou em seu comentário. E a História acabou por lhe dar razão, mais rápido do que ele esperava. Quatro anos depois, no dia 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim foi derrubado, sem qualquer reação dos ocupantes do Kremlin. Três anos depois, a própria União Soviética foi extinta.

Se a unificação da Alemanha parecia delírio de um estrangeiro, o mesmo ceticismo envolve hoje o conflito entre israelenses e palestinos. A questão também se tornou mais aguda, após a criação de Estado de Israel pela ONU, em 1948, com o voto do Brasil. A partilha inicial da antiga Palestina durou pouco. Atacado por países árabes, Israel ampliou seu território e instalou colônias em áreas que antes pertenciam aos palestinos. Desde então, o Oriente Médio ou enfrenta guerras formais ou sofre com o terrorismo. São gerações e gerações que não sabem o que é viver em paz. Mas é preciso acreditar no impossível. E é exatamente isso que o Papa Francisco fez ao unir em oração, em Roma, no domingo, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. “É preciso mais coragem para fazer a paz do que a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro, e não ao confronto”, afirmou Francisco, ao plantar uma oliveira nos Jardins do Vaticano, com o auxílio dos dois líderes.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se recusa a manter relações com o governo palestino. E o grupo islâmico Hamas continua a apostar na guerra como solução para os palestinos. Porém, assim como caiu o Muro de Berlim, um dia haverá paz na Terra Santa. “Uma paz entre iguais”, disse Peres. “Uma paz para nosso povo e para nossos vizinhos”, completou Abbas. O avanço pode não ser imediato. Mas os jovens em Tel Aviv e em Gaza querem o fim do conflito. Símbolo de esperança, a juventude fez história na Alemanha e também fará no Oriente Médio.