quinta-feira, 5 de junho de 2014

Quem põe o guizo no gato?
A Copa do Mundo se aproxima, as ruas começam a ser enfeitadas de verde-amarelo, mas os brasileiros continuam de mau humor
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Segundo pesquisa do instituto americano Pew Research, 72% dos entrevistados estão insatisfeitos com a maneira com que o país está sendo conduzido. O índice é bem superior à marca de 55%, que antecedeu as manifestações de junho do ano passado. É grande também o descontentamento com o desempenho da economia. O contingente de pessoas que consideram a situação ruim saltou de 41% para 67% nos últimos doze meses. Diante desse quadro, os responsáveis pela campanha de reeleição Dilma Rousseff entraram em estado de alerta. O desânimo dos eleitores não resulta em crescimento dos adversários, mas, a continuar assim, certamente terá consequências que podem tirar votos da presidente.
Comenta-se em Brasília que, em reunião na segunda-feira passada, o marqueteiro João Santana analisou os índices que põem em xeque a eficiência do governo Dilma e concluiu que é necessário mudar o rumo das peças publicitárias e também as diretrizes de comunicação. Para enfrentar a crescente insatisfação, não basta ressaltar as realizações dos 12 anos de gestão petista.Também é preciso mostrar à população que a máquina pública, embora com suas deficiências crônicas, está azeitada e faz o possível para dar respostas positivas às demandas da sociedade. Se existem dúvidas a respeito, Santana, uma raposa do marketing político, tratará de elucidá-las. Ele vai dispor de um generoso espaço na propaganda da TV, a partir de agosto, para executar a missão.
Enquanto o staff de Dilma afina seu discurso, os candidatos da oposição se apresentam como alternativa viável. Garantem que têm solução para os problemas que afligem os eleitores. Em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, o tucano Aécio Neves afirmou que o primeiro ato de seu governo será dar posse a um grupo de trabalho que terá seis meses para apresentar uma proposta de reforma do Estado. O neto de Tancredo explicou que o ex-governador Antonio Anastasia já está dedicado ao tema. Por sinal, Anastasia, quando secretário de Planejamento, foi o responsável pelo “choque de gestão” no primeiro mandato de Aécio em Minas Gerais, copiado por outros governadores.
Uma das mudanças prometidas por Aécio é a redução do número de ministérios. Ele e Eduardo Campos, do PSB, consideram excessiva a atual estrutura: ao todo, são 39 ministros e secretários com status de ministro. Aécio, na entrevista, explicou que um estudo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, mostra que os países administrados por algo entre 20 e 23 ministérios têm melhor desempenho do que os que trabalham com maior quantidade. Disse também que Anastasia está avaliando os resultados desse estudo. Pediram, então, ao pré-candidato do PSDB que antecipasse pelo menos três pastas que deixariam de existir em seu governo, caso eleito. O senador mexeu-se na cadeira, deu uma justificativa enviesada, mas se recusou a antecipar o corte. Aliás, repetiu o que havia feito Eduardo Campos no mesmo programa.
Se, sem a caneta na mão, Aécio e Campos não se sentem confortáveis para antecipar, de forma objetiva, o enxugamento da máquina pública, é difícil confiar na promessa de palanque. Pelo visto, falar em corte de ministérios é fácil. A ideia é boa. Mas há que ter coragem para pôr o guizo no gato.