terça-feira, 9 de julho de 2013

BRASIL X EUA

O relacionamento entre Brasil e Estados Unidos
09/07/13 08:19 | Rodrigo Sias - Economista pelo instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
O relacionamento bilateral entre Brasil e EUA é estratégico para ambas as partes. Em 2012, o Brasil manteve-se como o oitavo maior parceiro comercial dos EUA e eles seguem sendo o nosso segundo maior parceiro comercial (atrás da China), com quase US$ 60 bilhões.
Apesar das exportações do Brasil significarem, em média, pouco mais de 1,1% do total importado pelos EUA, a maioria de nossas vendas esbarra em lobbies poderosos e em setores muito sensíveis politicamente. Alguns exemplos são conhecidos: etanol, suco de laranja, algodão, aço, carnes.
As barreiras levantadas contra produtos brasileiros incentivaram, em mais de uma ocasião, o investimento direto estrangeiro brasileiro naquele país. Esse foi o caso das aquisições das usinas Chaparral (aço), da Swift (proteína animal), entre outros casos.
As principais multinacionais brasileiras possuem investimentos significativos no mercado americano, em setores como aeronáutico (Embraer), citricultura (Cutrale), papel e celulose (Suzano), petróleo e gás (Petrobras), petroquímica (Braskem), proteína animal (JBS e Marfrig), siderurgia (Gerdau), têxtil e vestuário (Coteminas) e TI (Stefanini).
Segundo dados do BCB, os EUA figuram como o 2º destino dos investimentos diretos brasileiros no exterior, excetuando-se paraísos fiscais.
Já os EUA constam como principal investidor direto estrangeiro no país - excetuando-se os Países Baixos, um caso especial - e representam quase 20% do estoque de investimento na economia brasileira.
Nos últimos anos, graças à expansão do fluxo de comércio e investimento entre os dois países, o aprofundamento do relacionamento bilateral tem sido liderado quase exclusivamente pelos respectivos setores privados, convivendo com iniciativas diplomáticas e governamentais mais tímidas e pontuais de parte a parte.
Com a paralisação da Rodada Doha, em 2008, a postura adotada por cada país foi totalmente oposta. Enquanto os EUA têm-se lançado em amplas rodadas de negociação bilateral e regional - tais como a Parceria Transpacífico (TPP) e o acordo com a União Européia -, o governo brasileiro tem mantido uma visão míope arraigada no multilateralismo e em prol de uma política de integração sul-americana que há muito tempo dá sinais de esgotamento, distanciando-se dos americanos.
Com divergências no campo diplomático, os dois governos passaram a concentrar a relação em uma agenda técnica de facilitação do comércio e investimento, buscando consolidar uma ampla rede de mecanismos bilaterais de diálogo para resolução de pendências diversas, sem, no entanto, lançarem-se em compromissos abrangentes, como a negociação de um amplo acordo comercial bilateral.
Em 2011 e 2012, durante as visitas oficiais dos dois presidentes, os dois países ampliaram e aprofundaram essa rede de mecanismos bilaterais, elevando quatro deles à condição de "diálogos de nível presidencial", em assuntos como defesa, economia, energia e política externa.
Os EUA pressionam em diversos temas sensíveis como propriedade intelectual e compras governamentais.
Por outro lado, uma série de medidas e resoluções editadas no Congresso e agências reguladoras afeta as exportações brasileiras e as decisões de investimento.
Continuo na semana que vem.
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Rodrigo Sias é economista pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)